Exercícios sobre os representantes da Geração de 45

A geração de 45 demarcou a história da Literatura brasileira, cujos autores, apoiados nas correntes ideológicas, deixaram-nos como legado importantes criações artísticas. Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte
Questão 1

(Unaerp-SP) Leia o fragmento:

 O preço do feijão

não cabe no poema. O preço do arroz

não cabe no poema.

                 
Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão

A sua é uma poesia de protesto, principalmente em Poema sujo. Participou da fase concretista. Exímio jornalista, privilegia o social.

Falamos de:

a) Carlos Nejar

b) João Cabral de Melo Neto

c) Ferreira Gullar

d) Moacyr Scliar

e) Gonçalves Dias

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Não há como duvidarmos de que o poema citado no enunciado da questão diz respeito à Ferreira Gullar, demarcando-se, assim, como correta a letra “C”. Ele, por sua vez, a partir do início dos anos 60, havendo rompido com as correntes vanguardistas, começou a entrar em contato com as correntes sociais que tanto assolavam a realidade brasileira da época vigente. Dessa forma, imbuído nesse propósito, passou a fazer poesia de cunho participante, cuja proposta era voltada para os aspectos da sociedade de uma forma geral.

Questão 2

(Puccamp-SP)

Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso. 

Pelo fragmento acima de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, percebe-se que neste romance, como em outros regionalistas do autor,

a)      O conflito entre o eu e o mundo se realiza pela interação entre as personagens e o sertão que acaba por ser mítico e metafísico.

b)      O sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes sofrem as agressões do meio hostil e adverso à sobrevivência humana.   

c)      Não existe uma região a que geograficamente se possa chamar de sertão: ele é fruto da projeção do inconsciente das personagens.

d)      A periculosidade da vida das personagens está circunscrita ao meio físico e social em que vivem.

e)      Há um conceito muito restrito de sertão, reduzido a palco de lutas entre bandos de jagunços.

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A alternativa que melhor se aplica aos traços norteadores da obra de João Guimarães Rosa se refere à demarcada pela letra “C”, haja vista que, como expresso, o sertão não se limita ao espaço geográfico, ao contrário, em vez de se limitar, ele faz uma abrangência ainda maior, abarcando, sobretudo, questões de ordem metafísica a que se encontram submetidos os seres humanos de uma forma geral. Dessa forma, ele aponta o homem, considerado como ser universal, vivendo em meio às situações conflitantes de seu tempo, demarcadas pelas oposições existentes entre o bem o e mal, o amor e a violência, a existência ou não de Deus e do Diabo.

Questão 3

A seguir, encontram-se demarcados dois poemas, um de Carlos Drummond de Andrade e o outro de João Cabral de Melo Neto. Dessa forma, após analisá-los (ainda que sejam apenas fragmentos), procure responder ao que se pede:

A lição de poesia

1.

Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

2.

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.[...]

João Cabral de Melo Neto

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
[...]

Carlos Drummond de Andrade

Há alguma relação de semelhança entre os discursos ora produzidos? Se sim, comente.

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Ao nos interagirmos mediante a leitura de ambas as criações, notamos que elas se assemelham no tocante ao laborioso exercício da escrita, considerado não como um simples ato espontâneo, mas sim como fruto de um trabalho paciente e, muitas vezes, árduo com a linguagem. Tais premissas podem perfeitamente ser evidenciadas por meio de algumas estrofes, tais como:

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.[...]


Comparadas a estas:

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.


Principalmente por meio desse último verso (O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.) em que o emissor deixa evidente não se tratar de um trabalho resultante de uma habilidade natural, mas sim de um sério manejo com as palavras.

Questão 4

Os representantes da geração de 1945, sobretudo fazendo menção à Clarice Lispector e Guimarães Rosa, conceberam à arte um nova roupagem – manifestada muito mais pelo culto à forma do que pelo apego ao conteúdo, à temática em si. Sob essa perspectiva, ela, Clarice, de forma magnífica, partiu para o aprofundamento introspectivo a partir de uma consciência individual, como bem “denuncia” uma de suas obras, “A hora da estrela”. Dada essa razão, analise alguns fragmentos, abaixo descritos, registrando os comentários acerca dos posicionamentos ideológicos assumidos pela escritora:

[...]

“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação talvez tivesse sido um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado da sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo.[...]

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Ao satisfazermos a proposta preconizada pelo enunciado da questão, não há como não nos reportarmos às palavras proferidas pela própria Clarice, nas quais ela aponta acerca de um fato bem interessante: “Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”. Assim, partindo dessa prerrogativa, o primeiro ponto a que devemos nos ater diz respeito à passagem demarcada por no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado da sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso”.

Ainda que por meio das entrelinhas, bem ao gosto lispectoriano, constatamos a denúncia dessa condição de ser e estar no mundo em que vivemos, ou seja, esse modo “esvoaçante preso ao mesmo tempo” simboliza as intempéries, os dissabores, os quais a própria vida nos proporciona, ou seja, ao mesmo tempo em que desejamos ser livres, sentimo-nos presos a algum pormenor que nos impede de algo.

Outra passagem, que tão bem retrata esse denunciar feito pela autora, sobretudo no que diz respeito aos problemas sociais de uma forma geral, diz respeito ao seguinte trecho:

O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos.

Lendo-o, identificamos que Clarice está se referindo às condições de miséria, uma vez levadas às últimas consequências, condições essas em que viviam os retirantes nordestinos na época em que a obra foi escrita.  Expressão melhor não contemplaria tal intento do que “bichos da mesma espécie que se farejam”.

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