Exercícios sobre a segunda fase do Modernismo no Brasil

A segunda fase do Modernismo no Brasil se compôs de renomados representantes, entre eles: Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado na prosa, entre outros. Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte
Questão 1

(PUC-RS)

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.

Uma das constantes na obra poética de Carlos Drummond de Andrade, como se verifica nos versos transcritos, é:

a) louvação do homem social
b) o negativismo destrutivo
c) a violação e desintegração da palavra
d) o questionamento da própria poesia.
e) o pessimismo lírico.

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Resposta

Como alternativa correta temos a letra “D”, retratando justamente a terceira fase de labor artístico de Carlos Drummond, fase essa em que passado o medo e a indignação oriundos dos tempos pós-guerra, ele resolveu mostrar sua face oculta. Face essa em que ele se volta para um questionamento metafísico, posicionando-se de forma reflexiva acerca de algumas questões voltadas para a condição humana, tais como a morte, a vida, cujas respostas eram encontradas por meio do próprio fazer poético.   Para ele, a palavra representava a matéria-prima para satisfazer os seus reais objetivos, pois era nela que encontrava um campo fecundo para desenvolver “seus experimentos”, digamos assim, enquanto cientista observador das questões humanas.

Questão 2

Entre os artistas que se destacaram no cenário artístico nacional, podemos destacar Graciliano Ramos, compondo a segunda fase do Modernismo, sobretudo na prosa. Assim, entre as magníficas obras que criara, uma delas se destaca pela temática voltada para o regionalismo brasileiro - Vidas Secas. Acerca dela, procure explicitar algumas particularidades relacionadas à temática trabalhada pelo autor em questão, enfatizando, sobretudo, os posicionamentos ideológicos por ele firmados – oriundos de todo um contexto social dominante. Para facilitar seu posicionamento frente à questão, propusemo-nos em descrever uma passagem:

A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.

[...]

Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia?

[...]

Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia.
[...]

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Palavras parecem fugir quando se trata de um autor cuja habilidade artística se concebe como ímpar, representado aqui por Graciliano Ramos. Ele, aberto a demonstrar claramente sua indignação acerca das intempéries que circundavam a realidade circundante, agiu assim como o fizeram todos os artistas que trabalharam a temática social, sobretudo os pertencentes à segunda geração modernista. Naquela época, o que se via era um Nordeste situado em meio à fome, à miséria, à decadência do ciclo canavieiro. Um Nordeste desenhado por retirantes em busca de sobrevivência, assim como a família de Fabiano, personagem do romance que demarcou para sempre a história da Literatura brasileira de todo os tempos.

Em face da situação em que viviam, as pessoas eram tipificadas a um estado de coisa, retratadas nitidamente pela figura dos dois filhos de Fabiano, os quais nem nome possuíam. Outro aspecto, também trabalhado pela genialidade do escritor, foi a ironia – recurso esse que ele encontrou para justamente expressar a forma como se sentia enquanto ser humano subordinado ao poderio da classe política, voltada somente para a concentração de bens da classe dominante. Nada melhor que Baleia, simbolizando algo forte, robusto, e Sinhá Vitória, que literalmente, simbolizava, só que de modo oposto, o fracasso do ser humano, permeado nas entranhas do próprio destino.

Questão 3

(UNIARAXÁ) Leia o fragmento abaixo transcrito da obra “Vidas Secas” e responda à questão a seguir:

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos)

No texto, a referência aos pés:

(A) Constitui um jogo de contrastes entre o mundo cultural e o mundo físico do personagem.

(B) Acentua a rudeza do personagem, em nível físico.

(C) Justifica-se como preparação para o fato de que o personagem não estava preparado para caminhada.

(D) Serve para demonstrar a capacidade de pensar do personagem.

(E) nda

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Alternativa correta é demarcada pela letra “B”, justamente para enfatizar a condição em que viviam submetidas as pessoas, sobretudo os nordestinos de uma forma geral, lutando por melhores condições de sobrevivência e  vivendo na condição de retirantes, tamanha e cruel era a realidade que demarcava o contexto histórico e social da época, que vai de 1930 a 1945.

Questão 4

“No meio do caminho” representa uma das criações de Carlos Drummond de Andrade. Assim, ei-la logo abaixo, cuja intenção é fazer com que você explicite algumas considerações acerca das ideologias que demarcaram a carreira artística deste nobre representante de nossas letras. Lembre-se de enfatizar acerca do contexto histórico que demarcou a época a que pertenceu Drummond:

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

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Antes de partimos para quaisquer considerações que se têm a fazer acerca da criação em pauta, torna-se relevante enfatizarmos que não só Carlos Drummond, mas também todos os artistas que pertenceram à segunda geração modernista, sobretudo no tocante à prosa, agiram de modo diferente daqueles que compuseram a segunda também, mais só que na poesia.

Permeados num intenso sentimento de incapacidade, oriundo de um período pós-guerra, resolveram mergulhar num questionamento acerca da condição de estar no mundo. Dessa forma, mostraram-se questionadores do próprio “eu”, e foi assim que mergulharam numa atmosfera de misticismo, de religiosidade, enfim. Nesse âmbito reside a criação a que fazemos referência, cuja temática explora um aspecto predominante na vida de todo ser humano: os obstáculos com os quais ele tem de conviver enquanto tal. Assim, o caminho representa os problemas sociais, digamos assim, e a pedra, os pessoais, os questionamentos, as turbulências oriundas da própria condição de ser humano.

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