Exercícios sobre variação linguística
(Enem) Leia com atenção o texto:
[Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?)
Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, n. 3, 78.
O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o de Portugal quanto
A) ao vocabulário.
B) à derivação.
C) à pronúncia.
D) ao gênero.
E) à sintaxe.
Alternativa A.
O texto mostra a variação linguística entre Brasil e Portugal em relação ao vocabulário, já que ressalta palavras como “paletó” e “casaco”, “meias” e “peúgas” etc.
(Enem)
MANDIOCA — mais um presente da Amazônia
Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, maniveira. As designações da Manihot utilissima podem variar de região no Brasil, mas uma delas deve ser levada em conta em todo o território nacional: pão-de-pobre — e por motivos óbvios.
Rica em fécula, a mandioca — uma planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro, especialmente pelos colonizadores portugueses — é a base de sustento de muitos brasileiros e o único alimento disponível para mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e em particular em algumas regiões da África.
O melhor do Globo Rural. Fev. 2005 (fragmento).
De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima, nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que
A) existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta.
B) “mandioca” é nome específico para a espécie existente na região amazônica.
C) “pão-de-pobre” é designação específica para a planta da região amazônica.
D) os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região.
E) a planta é nomeada conforme as particularidades que apresenta.
Alternativa A.
O texto demonstra que “existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta”, isto é, a mandioca. Portanto, os vários nomes da mandioca apontam uma variação linguística regional.
(Enem) Compare os textos I e II a seguir, que tratam de aspectos ligados a variedades da língua portuguesa no mundo e no Brasil.
Texto I
Acompanhando os navegadores, colonizadores e comerciantes portugueses em todas as suas incríveis viagens, a partir do século XV, o português se transformou na língua de um império. Nesse processo, entrou em contato — forçado, o mais das vezes; amigável, em alguns casos — com as mais diversas línguas, passando por processos de variação e de mudança linguística. Assim, contar a história do português do Brasil é mergulhar na sua história colonial e de país independente, já que as línguas não são mecanismos desgarrados dos povos que as utilizam. Nesse cenário, são muitos os aspectos da estrutura linguística que não só expressam a diferença entre Portugal e Brasil como também definem, no Brasil, diferenças regionais e sociais.
PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em: 5 jul. 2009 (adaptado).
Texto II
Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada uma das partes da construção ou na pronunciação. E em nenhuma parte da Terra se comete mais essa figura da pronunciação que nestes reinos, por causa das muitas nações que trouxemos ao jugo do nosso serviço. Porque bem como os Gregos e Romanos haviam por bárbaras todas as outras nações estranhas a eles, por não poderem formar sua linguagem, assim nós podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando querem imitar a nossa.
BARROS, J. Gramática da língua portuguesa. Porto: Porto Editora, 1957 (adaptado).
Os textos abordam o contato da língua portuguesa com outras línguas e processos de variação e de mudança decorridos desse contato. Da comparação entre os textos, conclui-se que a posição de João de Barros (Texto II), em relação aos usos sociais da linguagem, revela
A) atitude crítica do autor quanto à gramática que as nações a serviço de Portugal possuíam e, ao mesmo tempo, de benevolência quanto ao conhecimento que os povos tinham de suas línguas.
B) atitude preconceituosa relativa a vícios culturais das nações sob domínio português, dado o interesse dos falantes dessas línguas em copiar a língua do império, o que implicou a falência do idioma falado em Portugal.
C) o desejo de conservar, em Portugal, as estruturas da variante padrão da língua grega — em oposição às consideradas bárbaras —, em vista da necessidade de preservação do padrão de correção dessa língua à época.
D) adesão à concepção de língua como entidade homogênea e invariável, e negação da ideia de que a língua portuguesa pertence a outros povos.
E) atitude crítica, que se estende à própria língua portuguesa, por se tratar de sistema que não disporia de elementos necessários para a plena inserção sociocultural de falantes não nativos do português.
Alternativa D.
João de Barros considera a língua portuguesa falada em Portugal como superior às variantes da mesma língua em outros países. Assim, ele considera a variação como uma imitação (“quando querem imitar a nossa”). Desse modo, o gramático nega a ideia “de que a língua portuguesa pertence a outros povos”. Por desconsiderar ou desmerecer a variação linguística, sua posição revela a crença em uma “concepção de língua como entidade homogênea e invariável”.
(Enem)
BESSINHA. Disponível em: http://pattindica.files.wordpress.com/2009/06/bessinha458904-jpg-image_1245119001858.jpeg (adaptado).
As diferentes esferas sociais de uso da língua obrigam o falante a adaptá-la às variadas situações de comunicação. Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem oral informal usada entre avô e neto neste texto é
A) a opção pelo emprego da forma verbal “era” em lugar de “foi”.
B) a ausência de artigo antes da palavra “árvore”.
C) o emprego da redução “tá” em lugar da forma verbal “está”.
D) o uso da contração “desse” em lugar da expressão “de esse”.
E) a utilização do pronome “que” em início de frase exclamativa.
Alternativa C.
Marcado pela variação diafásica, o texto apresenta uma marca linguística da linguagem oral, isto é, a redução “tá” utilizada pelo avô em uma situação informal.
(Enem)
Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes.
Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010.
O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de Fuzueira mostram que seu texto foi elaborado em linguagem
A) regional, adequada à troca de informações na situação apresentada.
B) jurídica, exigida pelo tema relacionado ao domínio do futebol.
C) coloquial, considerando-se que ele era um cidadão brasileiro comum.
D) culta, adequando-se ao seu interlocutor e à situação de comunicação.
E) informal, pressupondo o grau de escolaridade de seu interlocutor.
Alternativa D.
A linguagem utilizada pelo enunciador da carta é culta, já que a situação comunicativa (o interlocutor é o presidente da República) exige tal formalidade. Desse modo, o texto apresenta uma variação diafásica.
(Enem)
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
No poema, a referência à variedade padrão da língua está expressa no seguinte trecho:
A) “A linguagem/ na ponta da língua” (v. 1 e 2).
B) “A linguagem/ na superfície estrelada de letras” (v. 5 e 6).
C) “[a língua] em que pedia para ir lá fora” (v. 14).
D) “[a língua] em que levava e dava pontapé” (v. 15).
E) “[a língua] do namoro com a priminha” (v. 17).
Alternativa B.
O poema diz que quem sabe o que quer dizer a “linguagem na superfície estrelada de letras” é o professor Carlos Góis, o qual domina a norma padrão da língua, já que “vai desmatando/ o amazonas de minha ignorância./ Figuras de gramática, esquipáticas,/ atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me”.
(Enem)
Papos
— Me disseram...
— Disseram-me.
— Hein?
— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
— O quê?
— Digo-te que você...
— O “te” e o “você” não combinam.
— Lhe digo?
— Também não. O que você ia me dizer?
— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...]
— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
— O quê?
— O mato.
— Que mato?
— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
— Se você prefere falar errado...
— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (adaptado).
Nesse texto, o uso da norma padrão defendido por um dos personagens torna-se inadequado em razão do(a)
A) falta de compreensão causada pelo choque entre gerações.
B) contexto de comunicação em que a conversa se dá.
C) grau de polidez distinto entre os interlocutores.
D) diferença de escolaridade entre os falantes.
E) nível social dos participantes da situação.
Alternativa B.
No contexto de uma conversa informal, a norma padrão não precisa ser utilizada.
(Enem)
Disponível em: www.globofilmes.globo.com. Acesso em: 13 dez. 2017 (adaptado).
A frase, título do filme, reproduz uma variedade linguística recorrente na fala de muitos brasileiros. Essa estrutura caracteriza-se pelo(a)
A) uso de uma marcação temporal.
B) imprecisão do referente de pessoa.
C) organização interrogativa da frase.
D) utilização de um verbo de ação.
E) apagamento de uma preposição.
Alternativa E.
O título do filme Que horas ela volta? não traz a preposição “a”, a qual estaria presente se a frase seguisse a norma culta ou padrão, ou seja, “A que horas ela volta?”.
(Enem)
Disponível em: www.facebook.com/minsaude. Acesso em: 14 fev. 2018 (adaptado).
A utilização de determinadas variedades linguísticas em campanhas educativas tem a função de atingir o público-alvo de forma mais direta e eficaz. No caso desse texto, identifica-se essa estratégia pelo(a)
A) discurso formal da língua portuguesa.
B) registro padrão próprio da língua escrita.
C) seleção lexical restrita à esfera da medicina.
D) fidelidade ao jargão da linguagem publicitária.
E) uso de marcas linguísticas típicas da oralidade.
Alternativa E.
Para atingir o público-alvo, a campanha usa uma linguagem mais simples e direta, com marcas linguísticas da oralidade, como a frase “e está difícil largar”, em que o sujeito do verbo “está” é impreciso, enquanto o objeto direto de “largar” está implícito, ou seja, o açúcar. No entanto, essa é uma expressão utilizada comumente no cotidiano e, por isso, de fácil compreensão. O uso do pronome “se” entre os verbos em “ir se acostumando” também é típico da língua oral no Brasil, além da expressão coloquial “com cada vez menos”.
(Enem)
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
— “Paz no futuro e glória no passado.”
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada. Música: Francisco Manuel da Silva (fragmento).
O uso da norma padrão na letra do Hino Nacional do Brasil é justificado por se tratar de um(a)
A) reverência de um povo a seu país.
B) gênero solene de característica protocolar.
C) canção concebida sem interferência da oralidade.
D) escrita de uma fase mais antiga da língua portuguesa.
E) artefato cultural respeitado por todo o povo brasileiro.
Alternativa B.
A variação diafásica está relacionada ao contexto comunicativo. O Hino Nacional do Brasil é utilizado em uma situação solene e formal. Portanto, é adequado o uso da norma padrão em sua letra.
(Enem)
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto”
utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por
travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário...”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afíada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1.300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).
Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por
A) ter mais de mil palavras conhecidas.
B) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
C) ser consolidado por objetos formais de registro.
D) ser utilizado por advogados em situações formais.
E) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.
Alternativa C.
Segundo o texto da questão, existe um dicionário de pajubá, ou seja, um objeto formal de registro, o que dá ao pajubá o status de dialeto social, ou seja, variante de uma língua associada a uma determinada comunidade.
(Enem)
Falso moralista
Você condena o que a moçada anda fazendo
e não aceita o teatro de revista
arte moderna pra você não vale nada
e até vedete você diz não ser artista
Você se julga um tanto bom e até perfeito
Por qualquer coisa deita logo falação
Mas eu conheço bem o seu defeito
e não vou fazer segredo não
Você é visto toda sexta no Joá
e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim de semana você deixa a companheira
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira
Segunda-feira chega na repartição
pede dispensa para ir ao oculista
e vai curar sua ressaca simplesmente
Você não passa de um falso moralista
NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979.
As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas
A) “falação” e “pros bailes”.
B) “você” e “teatro de revista”.
C) “perfeito” e “Carnaval”.
D) “bebe bem” e “oculista”.
E) “curar” e “falso moralista”.
Alternativa A.
As expressões “falação” e “pros bailes” são exemplos de marcas informais do uso da língua, típicas da variação diafásica e também da variação diastrática ou social. Afinal, “falação” e “pros” são termos coloquiais.