Exercícios sobre Gonçalves Dias

Gonçalves Dias se fez visto como um dos principais representantes do cenário artístico nacional, atuante na chamada primeira geração romântica. Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte
Questão 1

(UE-Londrina) Gonçalves Dias se destaca no panorama da primeira fase romântica pelas suas qualidades superiores de artista. Nele:

a) a pátria é retratada de maneira que se tenha um registro fiel da sua fauna e flora, sem interferência da emoção do poeta, como em “Canção do Exílio”.

b) a persistência de traços do espírito clássico impede o exagero do sentimentalismo, encontrado, por exemplo, em Casimiro de Abreu.

c) o indianismo é fiel à verdade da vida indígena, não apresentando a distorção poética observada em outros escritores.

d) protótipo do byroniano, convivem lado a lado o humor negro e o extremo idealismo.

e) predomina a poesia lírica de recuperação da infância, com acentuado tom saudosista, tão evidente em “Meus Oito Anos”.

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Letra b

Não há o que contestar quando nos situamos aos dizeres expressos pela alternativa “B”, posto que em Gonçalves Dias presenciamos traços bastante reais de uma herança neoclassicista, possivelmente confirmados em decorrência de sua herança lusitana, a qual o consagrou um verdadeiro artífice do verso, compondo de forma singular algumas das mais belas poesias descritas em língua portuguesa. Tais traços, porém, norteados por uma polidez de sentimento, fazem-nos crer que Gonçalves Dias não se entregou de todo aos exageros, ao sentimentalismo exacerbado, ao pessimismo implacável de que tanto fez uso Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, entre outros poetas pertencentes à segunda geração de românticos.

Questão 2

(UFOP) A afirmativa correta é:

a) Gonçalves Dias em sua poesia busca a perfeição formal e o absoluto rigor da métrica, de acordo com o que preconiza a estética romântica.

b) Gonçalves Dias, quase unanimemente considerado pela crítica o nosso primeiro grande poeta romântico, explorou o tema indianista como afirmação da nossa nacionalidade, segundo a crença romântica, e foi mais além ao mostrar-se talentoso na exaltação da natureza e profundamente lírico em poemas como, por exemplo: Ainda uma vez — Adeus!, Como! És tu?, dentre outros.

c) Para Gonçalves Dias a poesia não narra, não descreve e não é didática. A poesia deve apenas sugerir, pois faz uso da linguagem poética em oposição à linguagem utilitária da prosa, da filosofia e da ciência que faz uso dos signos ordinários do cotidiano.

d) Talvez tenha sido Gonçalves Dias o único grande poeta brasileiro a alcançar almejado ideal da “impassibilidade”, possibilitando, com isso, uma poesia reveladora da realidade exterior, formando, com Castro Alves, a verdadeira poesia empenhada de nossa literatura.

e) Nenhuma das alternativas está correta.

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Letra b

Tem-se que a alternativa que melhor se adéqua ao que propõe o enunciado da questão faz referência àquela representada pela letra “B”, haja vista que Gonçalves Dias se consagrou como o primeiro poeta autêntico a compor a estética romântica. Como característica primordial, a qual se aplica à chamada primeira geração, tem-se o nacionalismo, ecoando ruídos de um Brasil recém-libertado e, portanto, rico, repleto de belezas naturais, de paisagens, de cultura. Assim, como não exaltar essa Pátria, sobretudo porque nela estava presente uma das origens, nativas por sinal, a figura do índio, habitante primeiro dessas terras. Além desses aspectos, imprime ao estilo do poeta a arte de trabalhar o lirismo, recurso esse manifestado pela visão de um amor não realizado, impossível por sinal, norteado pelos desencontros, pelas desilusões, pela dor da solidão.

Questão 3

A poesia lírico-amorosa deixa nítida uma das vertentes norteadoras da obra desse grande representante de nossas letras – Gonçalves Dias. Dessa forma, acerca dos conhecimentos de que dispõe sobre esse perfil do artista em questão, analise o poema a seguir, procurando deixar suas marcas de impressão acerca dele:

Ainda Uma Vez Adeus

                      I
Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

[...]

                    VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!
                      IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

[...]

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Além do perfil voltado para o exaltar do nacionalismo, envolvendo, consequentemente, as questões voltadas para o nativo acima de tudo, Gonçalves Dias também cultuou, como expresso no próprio enunciado, a poesia lírico-amorosa, traço demarcante de toda a sua habilidade enquanto artista dos versos. Dessa forma, nota-se por meio do poema em análise que o amor é visto como um sentimento aquém, um sentimento não concretizado, ainda que cultivado.  Os versos últimos, ora retratados abaixo, tão bem nos demonstram que, apesar das desilusões amorosas, o eu-lírico não cansou de lutar, alegando que por mais que tenha sido um erro, um engano, o sacrifício foi cumprido, uma vez que o amor se fez tão grande, que a própria vida daria conta de toda essa imensidão. Não bastassem todas essas conclusões, ele ainda deixa claro que engano foi, mas não um engano passível de ser considerado um crime.

Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

Questão 4

Recorrendo às características pertinentes à era romântica, sobretudo àquela demarcada pela primeira geração, cujo representante maior foi Gonçalves Dias, atente ao poema que segue, analisando-o e destacando dele tais características:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar –sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

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O nacionalismo, tão cultuado pelo poeta em estudo, ressoava marcas de uma nação recentemente liberta das amarras de Portugal, que por tanto tempo se fez dominador nessas terras. Assim, traços ideológicos como esse tão bem casavam com a situação, visto que as belezas aqui encontradas, sobretudo aquelas condizentes aos aspectos naturais, à própria cultura propriamente dita, levando em conta as origens, as raízes, representavam marcas aparentes e, portanto, passíveis de serem exaltadas. Dessa forma, até mesmo no exílio, mais especificamente em Portugal, o poeta não deixou de mencionar, nitidamente demarcado pelo uso dos advérbios “cá” e “lá”, que aqui até o gorjeio das aves se manifestava de forma diferente, já não falando das várzeas, dos bosques, do céu, enfim.

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