Exercícios sobre Paulo Mendes Campos
(UFMT - 2006)
“Chatear” e “encher”
Um amigo meu me ensina a diferença entre “chatear” e “encher”. Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer na cidade.
— Alô, quer me chamar por favor o Valdemar?
— Aqui não tem nenhum Valdemar.
Daí a alguns minutos você liga de novo.
— O Valdemar, por obséquio.
— Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
— Mas não é do número tal?
— É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.
Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
— Por favor, o Valdemar já chegou?
— Vê se te manca palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
— Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
— Não chateia.
Daí a dez minutos, ligue de novo.
— Escute uma coisa: o Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro dessa vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
— Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar! Alguém telefonou para mim?
Paulo Mendes Campos, in Para gostar de ler - Crônicas
Na crônica são construídas relações envolvendo narrador e personagens. Sobre o assunto, assinale a afirmativa correta.
a) A fala – É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar. sinaliza o início da perda de paciência da pessoa que atende ao telefone.
b) Desde o início do texto, a pessoa que telefona mostra-se irritada com quem fala.
c) O uso do artigo o antes de Valdemar revela o distanciamento entre Valdemar e a pessoa que o procura.
d) O autor cria uma relação lúdica entre Valdemar e os funcionários do escritório.
e) A presença da datilógrafa é motivo para que o funcionário que atende ao telefone mantenha, durante a conversa, comportamento polido.
Alternativa “a”.
(UFMT – 2006)
“Chatear” e “encher”
Um amigo meu me ensina a diferença entre “chatear” e “encher”. Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer na cidade.
— Alô, quer me chamar por favor o Valdemar?
— Aqui não tem nenhum Valdemar.
Daí a alguns minutos você liga de novo.
— O Valdemar, por obséquio.
— Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
— Mas não é do número tal?
— É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.
Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
— Por favor, o Valdemar já chegou?
— Vê se te manca palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
— Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
— Não chateia.
Daí a dez minutos, ligue de novo.
— Escute uma coisa: o Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro dessa vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
— Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar! Alguém telefonou para mim?
Paulo Mendes Campos, in Para gostar de ler - Crônicas
Sobre a linguagem utilizada por Paulo Mendes Campos, assinale a afirmativa correta.
a) Os dêiticos aqui (linhas 4, 7, 9, 12 e 19) e aí (linha 13) são entendidos pelo leitor por referenciarem lugares em que estão os participantes do diálogo.
b) A crescente irritação do funcionário que atende ao telefone é percebida pelos impropérios proferidos ao longo da conversa.
c) O texto traz vocábulos e expressões caracteristicamente regionais: por obséquio; datilógrafa; cavalheiro; Vê se te manca, palhaço.
d) A linguagem utilizada no texto é predominantemente formal, adequada a um diálogo entre desconhecidos.
e) A fala – Aqui não tem nenhum Valdemar., reescrita na modalidade escrita padrão, fica: Nesse escritório, não tem Valdemar.
Alternativa “a”. Chamamos de dêiticos os elementos linguísticos que fazem referência ao falante, à situação de produção de um dado enunciado ou mesmo ao momento em que o enunciado é produzido. Em geral, funcionam como dêiticos os pronomes pessoais e demonstrativos, bem como os advérbios de lugar e de tempo, elementos que evidentemente se encarregam de situar o enunciado no contexto espaço-temporal em que se realiza.
Sobre as principais características da obra de Paulo Mendes Campos, estão corretas as seguintes proposições:
I. A forma, o pensamento e o lirismo compõem a tríade que define sua linguagem poética. A poesia de Paulo Mendes Campos mistura a tradição com a modernidade e por isso é clássica, mas também contemporânea.
II. Utiliza recursos oriundos de tendências literárias distintas para construir seus poemas, sobretudo do Concretismo e da Poesia Marginal. Entre esses recursos, estão o aproveitamento icônico (a imagem é elemento essencial de sua poesia), o jogo de palavras, o ludismo (há em sua escrita o encantamento de um olhar primitivo, quase infantil), a originalidade, a escrita telegráfica e a objetividade.
III. Aboliu as fronteiras entre a narrativa e a lírica, inserindo em sua prosa recursos de grande expressão poética. Além de ter inovado as técnicas narrativas, o escritor foi um hábil inventor de palavras, característica que está intrinsecamente relacionada com a sua escrita peculiar.
IV. Poeta, dramaturgo e ficcionista, destacou-se na poesia e na prosa: sua escrita, quase sempre polêmica, é reconhecível em seus poemas por vezes líricos, por vezes eróticos. Sua prosa é abundante, original, e nela também é possível notar toda a liberdade de quem tocou em temas considerados tabus, entre eles a morte, o sexo e Deus.
V. O tempo, a memória, a morte e outras questões relacionadas com a metafísica são temas constantes em sua obra, que também apresenta um discurso influenciado pela consciência crítica que conecta o poeta com a realidade de seu tempo.
a) II, III e IV.
b) III e V.
c) I, II e IV.
d) I e V.
e) I, II e V.
Alternativa “d”. A obra de Paulo Mendes Campos é marcada pelo humor e pelo lirismo. Além desses aspectos, é possível notar que o escritor transita com facilidade entre a tradição e modernidade, o apreço pela forma fixa, sobretudo em seus poemas, e o gosto pela escrita contemporânea. II. Arnaldo Antunes. III. Guimarães Rosa. IV. Hilda Hilst.
Leia o poema de Paulo Mendes Campos para responder à questão:
Três Coisas
Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar
O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido
Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar
O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?
Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar
O tempo levanta o muro.
A morte será o escuro?
Em teu olhar me procuro.
Paulo Mendes Campos
No poema intitulado “Três coisas”, é possível constatar a manifestação das principais características da poesia de Paulo Mendes Campos. São elas:
a) Nos versos de Paulo Mendes Campos frequentam elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música. Esses elementos conferem à sua poesia um caráter fluido e etéreo.
b) A poesia de Paulo Mendes Campos contempla aspectos memorialistas e, em sua última fase, o poeta aprofunda temas que permearam toda a obra, entre eles a infância, a cidade natal, a família, o humor e a autoironia.
c) O tempo, a memória, a morte e outras questões relacionadas com a metafísica são temas constantes em sua obra, que também apresenta um discurso influenciado pela consciência crítica que conecta o poeta com a realidade de seu tempo
d) Em sua poesia, podemos encontrar temas prosaicos, como a doença, o cotidiano, a cultura popular, a saudade, a infância, a solidão.
Alternativa “b”. A obra poética de Paulo Mendes Campos, embora menos conhecida do que a sua obra dedicada ao gênero crônica literária, articula-se nas categorias tempo, memória e morte, temas preponderantes em sua poesia.