Exercícios sobre Ambiguidade
Como se sabe, toda e qualquer interlocução está condicionada a alguns requisitos básicos para que haja uma perfeita sintonia entre os elementos envolvidos (emissor x receptor). Partindo desse pressuposto, comente acerca de algumas ocorrências que porventura interferem em tal materialização, especialmente sobre a ambiguidade.
Vários são os entraves que porventura podem interferir na clareza da mensagem, o que contribui para que a incomunicabilidade se perpetue. Como exemplos desses podemos citar a ambiguidade, cuja característica se manifesta pela múltipla interpretação da ideia apresentada. Em se tratando de textos cuja objetividade se revela como fator primordial, tal ocorrência funciona como uma barreira, impedindo que a interlocução seja materializada de forma plausível. Contudo, quando a ambiguidade é utilizada de forma intencional, como é o caso da linguagem poética e publicitária, dos cartuns, histórias em quadrinhos e anedotas, trata-se de um recurso, portanto, não é concebida como uma inadequação.
Considerando a oração em destaque, responda às questões que a ela se referem:
Os jurados julgaram o rapaz doente. |
Quando analisada, o que se percebe é que a construção sintática apresenta algumas inadequações – fato que possibilita o termo “doente” adquirir interpretações distintas. Com base nessa premissa, analise:
a) Quais seriam essas interpretações?
b) As inadequações, por vezes constatadas, levam-nos a crer que o discurso carece de uma reformulação. Assim sendo, retrate as formas pelas quais essa mudança se manifestaria, tendo em vista a importância de uma mensagem clara e objetiva.
C) Atribuídas as mudanças, passe as orações para a voz passiva
a) A ideia ora apresentada remete-nos a duas interpretações: o rapaz estava doente quando julgado ou o rapaz foi considerado "doente" pelos jurados.
b) Como o contexto não nos permite identificar qual das duas interpretações é a correta, cabem duas reformulações:
Os jurados julgaram o rapaz, que estava doente.
Os jurados julgaram o rapaz como doente.
c) O rapaz que estava doente foi julgado pelos jurados.
O rapaz foi julgado pelos jurados como doente.
(UNICAMP- SP)
P E R I G O Árvore ameaça cair em praça do Jardim Independência Um perigo iminente ameaça a segurança dos moradores da rua Tonon Martins, no Jardim Independência. Uma árvore, com cerca de 35 metros de altura, que fica na Praça Conselheiro da Luz, ameaça cair a qualquer momento. Ela foi atingida, no final de novembro do ano passado, por um raio e, desde este dia, apodreceu e morreu, a árvore, de grande porte, é do tipo Cambuí e está muito próxima à rede de iluminação pública e das residências. “O perigo são as crianças que brincam no local”, diz Sérgio Marcatti, presidente da associação do bairro. (Juliana Vieira, Jornal Integração, 16 a 31 de agosto de 1996). |
a) O que pretendia afirmar o presidente da associação?
b) O que afirma, literalmente?
c) Na placa abaixo, podemos encontrar o mesmo tipo de ambiguidade que havia na declaração de Sérgio Marcatti. O que tornaria divertida a leitura da placa?
Cuidado escola! |
a) Nota-se que a pretensão do emissor era alertar para os perigos que corriam as crianças, uma vez que essas brincavam constantemente no local onde se encontrava a árvore – já podre, sem vida, podendo cair a qualquer momento.
b) Quando analisada em seu sentido literal, a mensagem nos revela que quem está oferecendo perigo são as próprias crianças: “O perigo são as crianças que brincam no local”. Dessa forma, o redator, por um descuido de sua parte, fez com que seu discurso fosse interpretado de uma outra forma, diferentemente do que ele pretendia estabelecer mediante a interlocução firmada.
c) Podemos detectar a mesma ocorrência na placa de advertência, a qual pode ser interpretada da seguinte forma: nesse caso é a escola que deve tomar cuidado, e não as pessoas que dela se aproximam.
Analise as orações subsequentes e, se necessário for, faça as alterações convenientes:
a) A menina pegou o ônibus correndo.
b) Visitamos o centro folclórico e o teatro cuja qualidade artística é tamanha.
c) A mãe viu o filho chegando em casa bem tarde.
d) A candidata deixou a plateia emocionada.
e) O psicólogo examinou o paciente preocupado.
a) A menina, que estava correndo, pegou o ônibus.
b) Visitamos o centro folclórico e o teatro, nos quais a qualidade artística é tamanha.
c) A mãe viu o filho que chegava em casa bem tarde.
d) A candidata, emocionada, deixou a plateia.
e) O psicólogo, preocupado, examinou o paciente.
Atenha-se às palavras de Cecília Meireles, ora retratadas por meio do poema que segue e, em seguida, retrate seu comentário acerca da ambiguidade nelas utilizadas, tendo em vista a intencionalidade discursiva.
Exílio
Das tuas águas tão verdes
nunca mais me esquecerei.
Meus lábios mortos de sede
para as ondas inclinei.
Romperam-se em teus rochedos:
só bebi do que chorei.
[...]
(Obra poética: Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p.151.)
Como se trata de uma linguagem poética, a ambiguidade foi utilizada como um recurso linguístico, com vistas a conferir maior ênfase à mensagem. Nesse sentido podemos afirmar que a autora utiliza-se de alguns termos, tais como águas verdes, ondas, rochedos e sede, os quais nos remetem a dois universos: ao universo marítimo, em razão de tais elementos, e à desilusão amorosa do próprio eu lírico do poema.