Exercícios sobre a função poética da linguagem
Sobre a função poética da linguagem, é correto afirmar, exceto:
a) Está entre as seis funções da linguagem prescritas pelo linguista russo Roman Jakobson e, assim como as demais, está associada aos elementos da comunicação (emissor, receptor, mensagem, código, canal e contexto).
b) A função poética coloca em evidência o lado palpável, material dos signos, conforme definição de Roman Jakobson. Isso significa dizer que a função poética está voltada para a própria mensagem.
c) Nesse tipo de função, a mensagem está centrada no emissor, pois a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao tema abordado.
d) Na função poética predomina a linguagem metafórica, o que produz o efeito de subjetividade e lirismo aos textos em que essa função predomina.
Alternativa “c”. A função em que a mensagem está centrada no emissor é a função emotiva da linguagem. Na função emotiva, o emissor tem como objetivo expressar seus sentimentos e emoções, utilizando-se de algumas marcas linguísticas, como verbos e pronomes em primeira pessoa, interjeições e adjetivos valorativos.
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
João Cabral de Melo Neto
Qual é a função de linguagem predominante no poema de João Cabral de Melo Neto? Identifique um verso que comprove isso.
a) função metalinguística/os fios de sol de seus gritos de galo.
b) função poética/ um galo sozinho não tece uma manhã.
c) função emotiva/ os fios de sol de seus gritos de galo.
d) função poética/ que com muitos outros galos se cruzem.
e) função emotiva/ e o lance a outro; e de outros galos.
Alternativa “b”. A função predominante é a função poética, que tem como principal característica a emissão de uma mensagem elaborada de maneira inovadora, encontrada predominantemente na linguagem literária, sobretudo na poesia. O verso “um galo sozinho não tece uma manhã” pode representar essa função, já que nele o poeta fez uso de uma metáfora, encontrada principalmente na palavra “tecer”: o poeta aproxima o canto do galo com o canto do poeta sendo tecido, verso a verso, fio a fio no poema.
OUVIR ESTRELAS
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Olavo Bilac
Nos textos em geral, é comum a ocorrência simultânea de várias funções da linguagem. Contudo, sempre haverá uma função predominante, isto é, aquela que será mais importante do que as demais. No poema de Olavo Bilac, a função predominante é a função poética, pois:
a) O centro de interesse da comunicação na função poética é o próprio texto e, por isso, alguns recursos são utilizados para chamar a atenção do destinatário para a mensagem. Forma e conteúdo ganham um novo arranjo para provocar no leitor o prazer estético. Recursos como efeitos sonoros e rítmicos, além do uso das diversas figuras de linguagem, colaboram na tentativa de deslocar a mensagem de uma estrutura convencional que tolhe a criatividade artística.
b) a mensagem está centrada no remetente, ou seja, em quem envia a mensagem, e está relacionada diretamente com a atitude de quem fala em relação àquilo de que se está falando. Pode dar a impressão de certa emoção, verdadeira ou dissimulada, a respeito de determinado assunto.
c) a mensagem está centrada no próprio código. Cada função tem um foco em um dos elementos da comunicação e, para a função poética, nada é mais importante do que a própria palavra e seus desdobramentos. Nela, o código é utilizado para falar sobre o próprio código, explicando-o e analisando-o.
d) a mensagem está centrada na necessidade de transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma maneira direta e objetiva, evitando assim o discurso literário.
Alternativa “a”.
Leia o fragmento do conto O burrinho pedrês, de Guimarães Rosa, para responder à questão:
“(...) As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
Pouco a pouco; porém, os rostos se desempanam e os homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos. Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a boiada quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro - centopeia -, mesmo prestes assim para surpresas más.
- Tchou!... Tchou!... Eh, booôi!...
E, agora, pronta de todo está ela ficando, cá que cada vaqueiro pega o balanço de busto, sem-querer e imitativo, e que os cavalos gingam bovinamente. Devagar, mal percebido, vão sugados todos pelo rebanho trovejante - pata a pata, casco a casco, soca soca, fasta vento, rola e trota, cabisbaixos, mexe lama, pela estrada, chifres no ar...
A boiada vai, como um navio (...)”.
Sobre o conto, estão corretas:
I. A função de linguagem predominante é a função emotiva, pois a mensagem está centrada no próprio remetente. A afirmação pode ser comprovada com o seguinte trecho: “Pouco a pouco; porém, os rostos se desempanam e os homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos”.
II. A função poética não está presente no conto de Guimarães Rosa porque ela somente é encontrada no gênero poema. Como se trata de um conto, a função predominante é a metalinguística.
III. A função metalinguística, cuja mensagem está centrada no próprio código, é predominante no conto de Guimarães Rosa. Tal informação pode ser comprovada com o seguinte trecho: “As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros”.
IV. A função poética é predominante, pois ela não é exclusiva da poesia, podendo ser encontrada em textos escritos em prosa, como no conto de Guimarães Rosa.
a) Apenas I está correta.
b) Todas estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) I e IV estão corretas.
e) Apenas IV está correta.
Alternativa “e”. No conto de Guimarães Rosa, a função poética é predominante, pois nele as palavras são arrumadas para reproduzirem a sonoridade da marcha da boiada por meio do emprego de aliterações, como: “Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...”.