Exercícios sobre tipos de narrativa

Os exercícios sobre tipos de narrativa vão ajudar você a compreender as principais diferenças entre os gêneros literários. Publicado por: Luana Castro Alves Perez
Questão 1

A mulher do vizinho

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo à ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

— O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

— Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

— Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

— Da ativa, minha senhora?

E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:

— Da ativa, Motinha! Sai dessa…

Fernando Sabino

Sobre o texto de Fernando Sabino, é correto afirmar que se trata de um texto do tipo:

a) Crônica.

b) Conto.

c) Fábula.

d) Novela.

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Resposta

Alternativa “b”. O texto de Fernando Sabino é um conto, tipo de narrativa que apresenta uma única ação que ocorre ao redor de poucos personagens, em um curto espaço de tempo. Nele existe apenas um conflito que se encaminha de maneira direta para um desfecho.

Questão 2

A primeira provocação

A primeira provocação ele aguentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir à escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.

Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a ideia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.

Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

- Violência, não!

                                       Luis Fernando Veríssimo

A partir da análise das características do texto de Luis Fernando Veríssimo, podemos afirmar que se trata de um texto do tipo:

a) Crônica.

b) Conto.

c) Fábula.

d) Epopeia.

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Resposta

Alternativa “a”. Texto curto e narrado em primeira pessoa, a crônica estabelece um diálogo entre o escritor e o leitor. Essa característica faz com que a crônica apresente uma visão pessoal de um determinado assunto.

Questão 3

O LOBO E O CÃO

Um lobo e um cão se encontraram num caminho. Disse o lobo:

— Companheiro, você está com ótimo aspecto: gordo, o pêlo lustroso… Estou até com inveja!

— Ora, faça como eu — respondeu o cão. — Arranje um bom amo. Eu tenho comida na hora certa, sou bem tratado… Minha única obrigação é latir à noite, quando aparecem ladrões. Venha comigo e você terá o mesmo tratamento.

O lobo achou ótima ideia e se puseram a caminho.

Mas, de repente, o lobo reparou numa coisa.

— O que é isso no seu pescoço, amigo? Parece um pouco esfolado… — observou ele.

— Bem — disse o cão — isso é da coleira. Sabe? Durante o dia, meu amo me prende com uma coleira, que é para eu não assustar as pessoas que vêm visitá-lo.

O lobo se despediu do amigo ali mesmo:

— Vamos esquecer — disse ele. — Prefiro minha liberdade à sua fartura.

Antes faminto, mas livre, do que gordo, mas cativo.

La Fontaine

Assinale a questão que contenha as principais características do gênero fábula:

a) Apresenta um acontecimento ficcional girando em torno de vários conflitos. Possibilita o desenvolvimento de outras tramas ao longo da história.

b) Tipo de narrativa que apresenta apenas um núcleo, cuja trajetória gira em torno de um único personagem. Apresenta recursos narrativos limitados.

c) Narrativa cuja principal característica é o tempo reduzido, apresenta poucas personagens que existem em função de um núcleo.

d) Semelhante ao conto em sua extensão e narrativa, apresenta personagens animais com características peculiares aos seres humanos. Seu principal objetivo é apresentar juízos de valores e lições de moral.

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Resposta

 Alternativa “d”.

Questão 4

(UFRGS) Considere as alternativas abaixo sobre o gênero crônica:

I. A neutralidade e a isenção do cronista são fatores preponderantes para a realização de uma boa crônica.

II. A crônica é escrita para durar pouco; daí advém o seu caráter efêmero e datado, bem como o interesse muitas vezes momentâneo.

III. Rubem Braga, ao contrário de Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino, concentrou sua obra na crônica.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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Resposta

Alternativa “d”. A crônica é um gênero que não está vinculado à necessidade de apresentar uma narrativa neutra ou imparcial. O discurso feito na primeira pessoa pode evidenciar algumas impressões e opiniões pessoais de quem a escreve.

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