Exercícios sobre Tráfico Negreiro
(Fuvest 2012) “Os indígenas foram também utilizados em determinados momentos, e sobretudo na fase inicial [da colonização do Brasil]; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor “aptidão” ao trabalho escravo (...). O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígines, e as dificuldades de seu apresamento, transporte, etc. Mas na 'preferência' pelo africano revela-se, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se processa num sistema de relações tendentes a promover a acumulação primitiva de capitais na metrópole; ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com escravos, abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígines mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse 'gênero de vida'; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole; realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa 'mercadoria'. Esse talvez seja o segredo da melhor 'adaptação' do negro à lavoura... escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e não o contrário.” (Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Hucitec, 1979, p. 105. Adaptado).
Nesse trecho, o autor afirma que, na América portuguesa:
a) os escravos indígenas eram de mais fácil obtenção do que os de origem africana, e por isso a metrópole optou pelo uso dos primeiros, já que eram mais produtivos e mais rentáveis.
b) os escravos africanos aceitavam melhor o trabalho duro dos canaviais do que os indígenas, o que justificava o empenho de comerciantes metropolitanos em gastar mais para a obtenção, na África, daqueles trabalhadores.
c) o comércio negreiro só pôde prosperar porque alguns mercadores metropolitanos preocupavam-se com as condições de vida dos trabalhadores africanos, enquanto que outros os consideravam uma “mercadoria”.
d) a rentabilidade propiciada pelo emprego da mão de obra indígena contribuiu decisivamente para que, a partir de certo momento, também escravos africanos fossem empregados na lavoura, o que resultou em um lucrativo comércio de pessoas.
e) o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável comércio para a metrópole, que se articulava perfeitamente às estruturas do sistema de colonização.
Letra E
A opção pela mão de obra escrava africana estava intimamente associada à lucratividade do tráfico negreiro transatlântico. O tráfico de escravos negros demandava uma estrutura intercontinental também associada ao comércio internacional de insumos agrícolas. O uso da mão de obra escrava indígena não contemplava essa dinâmica lucrativa.
(Unesp 2012) Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. (...) Quando um chefe (...) entregava a um navio europeu um grupo de cativos, não estava vendendo africanos nem negros, mas (...) uma gente que, por ser considerada por ele inimiga e bárbara, podia ser escravizada. (...) O comércio transatlântico (...) fazia parte de um processo de integração econômica do Atlântico, que envolvia a produção e a comercialização, em grande escala, de açúcar, algodão, tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é, com a mão de obra cativa. (Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos, 2008. Adaptado.)
Ao caracterizar a escravidão na África e a venda de escravos por africanos para europeus nos séculos XVI a XIX, o texto:
a) reconhece que a escravidão era uma instituição presente em todo o planeta e que a diferenciação entre homens livres e homens escravos era definida pelas características raciais dos indivíduos.
b) critica a interferência europeia nas disputas internas do continente africano e demonstra a rejeição do comércio escravagista pelos líderes dos reinos e aldeias então existentes na África.
c) diferencia a escravidão que havia na África da que existia na Europa ou nas colônias americanas, a partir da constatação da heterogeneidade do continente africano e dos povos que lá viviam.
d) afirma que a presença europeia na África e na América provocou profundas mudanças nas relações entre os povos nativos desses continentes e permitiu maior integração e colaboração interna.
e) considera que os únicos responsáveis pela escravização de africanos foram os próprios africanos, que aproveitaram as disputas tribais para obter ganhos financeiros.
Letra C
Alberto da Costa e Silva elucida a complexidade do continente africano, que possuía reinos poderosos desde a antiguidade, bem como tribos de homens que habitavam as várias regiões do continente, desde o deserto, passando pela região subsaariana, até chegar ao sul. O tráfico moderno de escravos, então, obedecia a um esquema que começava no próprio continente africano e entremeava-se com outros continentes para além do Oceano Atlântico, diferenciando-se assim da escravidão do mundo antigo e medieval.
No período imperial, mais precisamente no dia 4 de setembro de 1850, uma importante medida foi implementada para que se arrefecesse o tráfico transatlântico de escravos para terras brasileiras. Que medida foi essa?
a) Regularização do tráfico interprovincial
b) Lei Eusébio de Queiroz
c) Lei do ventre livre
d) Lei Áurea
e) Proibição do tráfico de escravos no continente africano
Letra B
A Lei Eusébio de Queiroz foi uma das medidas mais importantes no que tange ao refreamento da prática do tráfico negreiro transatlântico. Após a sua implementação, porém, houve um aumento significativo do tráfico interprovincial no Brasil, isto é, do tráfico entre as províncias imperiais.
Leia o poema a seguir:
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Essa é uma das estrofes do poema “O Navio Negreiro”, do poeta baiano Castro Alves, escrito em 1869. Considerando que a lei Eusébio de Queiroz, que proibiu o tráfico negreiro transatlântico, foi promulgada em 1850, Castro Alves, que apoiava a causa abolicionista, teria escrito esse poema dezenove anos depois da referida lei, com o objetivo de:
a) Impedir a revogação da lei que proibiu o tráfico transatlântico de negros africanos.
b) Abolir a escravidão, ao menos, na região onde nasceu, a Bahia.
c) Persuadir intelectuais que eram seus contemporâneos a aderirem à causa abolicionista, como Joaquim Nabuco, que era escravocrata.
d) dramatizar em versos o sofrimento dos negros africanos no momento em que tiveram que sair de sua terra em direção ao Brasil, transportados nos porões dos navios negreiros, para contribuir assim com a luta pelo fim da escravidão.
e) Apenas preservar a memória do sofrimento dos negros, pois, em 1869, o Brasil já havia abolido a escravidão
Letra D
Castro Alves, assim como Joaquim Nabuco, era abolicionista e escreveu o poema O Navio Negreiro objetivando uma dramatização da condição dos escravos africanos nos porões dos navios que os traziam ao Brasil. Pretendia, assim, endossar as pressões pela abolição da escravidão, que só foi efetivada em 1888 com a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel.