Exercícios sobre orações subordinadas adverbiais
(Unimontes)
O DESCONSOLO DA PERDA
Betty Milan*
[...]
O nosso maior desconsolo é a perda do ser amado. Só superamos a tristeza quando entendemos que perder não é sinônimo de não ter. Que quem morreu já não está no mundo, mas pode existir em nós. Fazer o luto é entender que a morte não anula a existência e que, sem estar, o morto ainda está. Isso requer tempo. Tanto mais tempo quanto menos ritualizada é a despedida. Nas sociedades em que existe o culto ao ancestral, a morte não deixa quem perde inteiramente desprotegido como na nossa sociedade. Entre nós, evita-se falar da morte e não se tem tempo para a tristeza, o que nos expõe mais ainda aos efeitos negativos dela. Nada é pior do que a tristeza recalcada, de ação sorrateira e consequências imprevisíveis. Quem não chora o seu morto e não é consolado pelos vivos fica sozinho com a perda. Num certo sentido, é marginalizado. Por outro lado, quem não tem tempo para o sofrimento alheio não pode ter relações de amor ou de amizade. E, assim, isola-se também.
Os personagens de romance encontram soluções mágicas para os seus dramas. Já nós somos obrigados a aceitar a realidade. Mas nada nos impede de aprender com os personagens a usar a nossa imaginação para viver melhor. No caso do luto, isso significa rememorar: o encontro, a solidariedade, o tempo feliz vivido na companhia do outro. Rememorar em vez de lamentar a falta. Só chora continuamente a perda do amado ou do amigo quem não acredita na própria morte. Ou desacredita o tempo, porque se ilude pensando que a vida não passa.
Veja, 1 de setembro, 2010, p. 164.
* Psicanalista e escritora.
A circunstância expressa pelas orações adverbiais dos períodos abaixo foi corretamente determinada em cada alternativa, EXCETO em
A) “Mas nada nos impede de aprender com os personagens a usar a nossa imaginação para viver melhor.” ⇒ CAUSA.
B) “Tanto mais tempo [requer] quanto menos ritualizada é a despedida.” ⇒ PROPORCIONALIDADE.
C) “Só superamos a tristeza quando entendemos que perder não é sinônimo de não ter.” ⇒ TEMPO.
D) “Nas sociedades em que existe o culto ao ancestral, a morte não deixa quem perde inteiramente desprotegido como na nossa sociedade.” ⇒ COMPARAÇÃO.
Alternativa A.
No enunciado “Mas nada nos impede de aprender com os personagens a usar a nossa imaginação para viver melhor”, temos uma oração subordinada adverbial final, um dos tipos de orações subordinadas adverbiais, já que indica finalidade.
Analise o seguinte período:
Naquela manhã, deixamos Onofre de castigo, porque ele quebrara a louça antiga da vovó.
Nesse enunciado, é possível apontar uma oração subordinada adverbial:
A) causal.
B) comparativa.
C) concessiva.
D) condicional.
E) conformativa.
Alternativa A.
A oração principal é “deixamos Onofre de castigo”. Assim, “porque ele quebrara a louça antiga da vovó” é uma oração que indica a causa de Onofre ter ficado de castigo.
(Unimontes)
Esculhambação
Ferreira Gullar
A tragédia de Santa Maria impactou o país pela quantidade de mortes que ocasionou, mas também pelo que significa no quadro da realidade brasileira: a denúncia da irresponsabilidade que tomou conta do país.
Que, no Brasil de hoje, as leis, as normas sociais estão aí apenas para constar, a gente já sabia. Mas foi preciso, desgraçadamente, que o incêndio da boate Kiss resultasse na morte de quase 240 pessoas — na sua maioria jovens universitários — para que as autoridades se mancassem e se sentissem obrigadas a fazer o que mais as desagrada: cumprir as leis e, pior ainda, punir quem as desrespeita. Na verdade, querem ser todos bonzinhos, especialmente consigo mesmos.
A tragédia de Santa Maria tornou de repente inviável essa cômoda atitude. A postura usual dos governantes e das autoridades é a de não admitir os seus próprios erros, atribuindo-os a injúrias ou mentiras inventadas pela imprensa.
[...]
É que, para eles, a opinião pública não merece nenhum respeito. Que outro sentido tem a recente eleição de Renan Calheiros para presidir o Senado Federal, embora denunciado pelo procurador-geral da República por peculato, uso de documentos falsos e corrupção? Há cinco anos, ele renunciou a essa mesma presidência e ao seu mandato parlamentar para escapar de ser cassado. E volta, agora, sob os aplausos efusivos de seus companheiros de farsa. É ou não é uma esculhambação?
Folha de S. Paulo, E10 ilustrada, domingo, 17 de fevereiro de 2013.
“[...] foi preciso, desgraçadamente, que o incêndio da boate Kiss resultasse na morte de quase 240 pessoas [...] para que as autoridades se mancassem e se sentissem obrigadas a fazer [...] cumprir as leis [...].”
Acerca da subordinação presente nesse período, assinale a alternativa em que a análise feita NÃO é procedente.
A) Esse trecho encerra uma ideia de finalidade.
B) Há, no trecho do enunciado, uma oração na forma desenvolvida, amparada pela conjunção “para que”, com verbos no subjuntivo.
C) Entre esse trecho expresso no enunciado e o seguinte trecho: “[...] ele renunciou a essa mesma presidência [...] para escapar de ser cassado”, há o estabelecimento de mesma ideia, explicitada por conjunção com mesmo valor ou função, com essa oração na forma reduzida.
D) Está expressa, no trecho, uma ideia de condição.
Alternativa D.
A ideia de finalidade pode ser apontada na oração subordinada adverbial final desenvolvida “para que as autoridades se mancassem e se sentissem obrigadas [...]”, formada com os verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo “mancassem” e “sentissem”. Também há ideia de finalidade na oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo “para escapar de ser cassado”, em que o termo “para” atua como conjunção subordinativa final. Portanto, não se verifica a ideia de condição.
Leia este texto:
Gérson comprou uma agenda, a fim de que pudesse organizar suas tarefas diárias a partir da próxima semana. Ele sabia que teria menos estresse assim. Quando escreveu na agenda pela primeira vez, teve a sensação de controle sobre a própria existência.
O texto apresenta que tipos de orações subordinadas adverbiais?
A) Causal e condicional.
B) Causal e concessiva.
C) Final e temporal.
D) Final e condicional.
E) Consecutiva e temporal.
Alternativa C.
Em “a fim de que pudesse organizar suas tarefas diárias a partir da próxima semana”, temos uma oração subordinada adverbial final. Já a oração “Quando escreveu na agenda pela primeira vez” é subordinada adverbial temporal.
(Unimontes)
O instinto animal
Alguns traduzem por “instinto animal” o que o economista inglês John Maynard Keynes na década de 30 descreveu como “animal spirit”, isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos, instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e sabedoria, para que o bolo não desande.
[...]
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo. Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites, os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável, aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa mais fundamental realidade: simples assim.
LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.
Assinale o contexto em que a palavra “se” foi usada com valor semântico de condição, introduzindo, pois, uma oração subordinada adverbial condicional.
A) “Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e sabedoria, para que o bolo não desande.”
B) “Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os sentidos...”
C) “Precisamos ter cuidados pelos que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente.”
D) “Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa mais fundamental realidade: simples assim.”
Alternativa A.
No enunciado “[...], ele [o instinto animal] melhora se misturado com alguma prudência e sabedoria”, temos a oração subordinada adverbial condicional “se misturado com alguma prudência e sabedoria”, a qual indica a condição para que ocorra o fato da oração principal “ele melhora”. Nos enunciados das alternativas B e D (“de suas raízes se alimenta a pobreza” e “para que ela [a utopia] se transforme na nossa mais fundamental realidade”), temos o pronome reflexivo “se”. Por fim, o “se” do enunciado “se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente” não expressa ideia de condição, mas sim de proporção. Desse modo, a ideia expressa é de que: ao passo que “nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente”.
Analise o seguinte enunciado:
Ela é menos solitária do que eu era na minha adolescência.
Nessa frase, há uma oração subordinada adverbial:
A) causal.
B) comparativa.
C) concessiva.
D) condicional.
E) temporal.
Alternativa B.
A frase compara duas experiências de solidão. A oração principal é “Ela é menos solitária”. Já “do que eu era na minha adolescência” é uma oração que mostra o segundo elemento da comparação, iniciada pela locução conjuntiva comparativa “do que”.
Analise o uso da locução conjuntiva “sem que” nos enunciados a seguir:
I- Não correrá sem que eu tenha chegado.
II- Não faz almoço sem que nos engorde.
III- O produto vendeu muito, sem que fosse bom.
Sobre tais enunciados é correto afirmar que a locução conjuntiva “sem que” introduz:
A) uma oração subordinada adverbial condicional em I e consecutiva em III.
B) uma oração subordinada adverbial consecutiva em II e concessiva em I.
C) uma oração subordinada adverbial consecutiva em II e condicional em III.
D) três orações subordinadas às principais, sendo todas adverbiais consecutivas.
E) uma oração subordinada adverbial condicional em I e concessiva em III.
Alternativa E.
Em I, temos a oração subordinada adverbial condicional “sem que eu tenha chegado”. Em II, ocorre a oração subordinada adverbial consecutiva “sem que nos engorde”. Por fim, em III, a oração “sem que fosse bom” é concessiva.
Analise a seguinte frase:
Mesmo sofrendo, não reclama.
Nesse período, há uma oração subordinada adverbial:
A) causal.
B) comparativa.
C) concessiva.
D) consecutiva.
E) temporal.
Alternativa C.
A oração “Mesmo sofrendo” traz a ideia de concessão, pois poderia evitar ou alterar o acontecimento da oração principal “não reclama”, mas não o faz.
Em todas as alternativas abaixo, há uma oração subordinada. No entanto, a única que apresenta uma oração subordinada adverbial é a alternativa:
A) É lógico que estamos condenados à morte.
B) O policial teve a impressão de que a mulher escondia uma faca.
C) Se houver reunião hoje, fale sobre as suas inquietações.
D) Os medos, que assolam a humanidade, têm fundamento.
E) A felicidade, que todos almejam, está na próxima esquina.
Alternativa C.
Na alternativa A, a oração “que estamos condenados à morte” é uma oração subordinada substantiva subjetiva. Na alternativa B, a oração “de que a mulher escondia uma faca” é uma oração subordinada substantiva completiva nominal. Na alternativa C, a oração “Se houver reunião hoje” é subordinada adverbial condicional. Por fim, são orações subordinadas adjetivas explicativas: “que assolam a humanidade” (alternativa D) e “que todos almejam” (alternativa E).
Analise o seguinte período:
Contanto que você me apoie, pode colocar em prática seu projeto.
Nesse enunciado, é possível apontar uma oração subordinada adverbial:
A) causal.
B) comparativa.
C) concessiva.
D) condicional.
E) conformativa.
Alternativa D.
A oração principal é “pode colocar em prática seu projeto”. Assim, “Contanto que você me apoie” é uma oração que indica a condição para o interlocutor colocar em prática o projeto.
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
OLIVEIRA, Angenor. As rosas não falam. In: OLIVEIRA, Angenor. Cartola. São Paulo: Discos Marcus Pereira, 1976.
Na letra de música do compositor Cartola, é oração subordinada adverbial:
A) “Bate outra vez” (estrofe 1).
B) “Queixo-me às rosas” (estrofe 3).
C) “Que bobagem as rosas não falam” (estrofe 3).
D) “O perfume que roubam de ti, ai” (estrofe 3).
E) “Para ver os meus olhos tristonhos” (estrofe 4).
Alternativa E.
Na alternativa A, temos uma oração principal. Na alternativa B e na alternativa C, temos orações coordenadas. Na alternativa D, temos oração subordinada substantiva objetiva direta. Por fim, a alternativa E apresenta uma oração subordinada adverbial final.
Analise esta frase:
Tudo aconteceu conforme nos disseram.
Nesse período, há uma oração subordinada adverbial:
A) temporal.
B) comparativa.
C) concessiva.
D) condicional.
E) conformativa.
Alternativa E.
O período diz que “Tudo aconteceu” (oração principal) de acordo com, em conformidade com o que “nos disseram”. Portanto, “conforme nos disseram” é uma oração subordinada adverbial conformativa.