Enem: lista de exercícios sobre gêneros literários
Considere o texto a seguir:
Oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
Carlos Drummond de Andrade
Os gêneros literários possibilitam a classificação dos textos de acordo com suas funções e especificidades. Pode-se dizer que “Oficina irritada”, de Carlos Drummond de Andrade, pertence ao gênero lírico, porque
(A) no poema há um eu lírico que fala sobre suas intenções de compor um soneto e quais efeitos ele vai provocar.
(B) no poema o eu lírico narra e descreve minuciosamente seu processo de criação poética e o quanto ela é trabalhosa.
(C) o poema dramatiza uma situação em que o poeta enfrenta dificuldades para compor seu poema com personagens complexos.
(D) o poema está todo em discurso direto e discurso indireto livre, mesclando a voz do narrador com a voz das personagens.
(E) o poema disserta sobre a importância de se compor um poema difícil de ler, o que faz dele mais argumentativo.
Letra A
O gênero lírico apresenta eu lírico que fala de suas emoções, pensamentos e visões de mundo. No caso de “Oficina irritada”, o soneto é metapoético.
Considere o texto a seguir:
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
BANDEIRA, Manuel. Os melhores poemas de Manuel Bandeira/Seleção de Francisco de Assis Barbosa. 12 ed. São Paulo: Global, 1998, p. 85–86. (Melhores poemas: 7)
Observando as sequências textuais e sabendo que os gêneros literários podem combinar suas características, é correto afirmar que esse poema é marcado por uma estrutura fortemente
(A) narrativa, impregnada de lembranças do eu lírico.
(B) descritiva, caracterizada pela presença de imagens visuais.
(C) dissertativa, assinalada pela reflexão sobre fatos da vida do eu lírico.
(D) argumentativa, indicada pelo tom interrogativo do poema.
(E) imperativa, assinalada pelo uso de perguntas retóricas.
Letra A
O poema evoca as memórias de infância do eu lírico e utiliza tempos verbais e estrutura sintáticas que remetem ao tempo pretérito, como nas narrativas do passado.
Em um poema escrito em louvor de Iracema, Manuel Bandeira afirma que, ao compor esse livro, Alencar:
“[...] escreveu o que é mais poema
Que romance, e poema menos
Que um mito, melhor que Vênus.”
Segundo Bandeira, em Iracema:
(A) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, dispensando referências a coordenadas e personagens históricas.
(B) O caráter poético dado ao texto predomina sobre a narrativa em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um mito literário.
(C) A mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no texto, assim como a prosa está para a poesia.
(D) Ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica.
(E) Estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo inferior, o mito.
Letra B
Apesar de o texto ser escrito em prosa, suas caraterísticas poéticas e mitológicas colocam Iracema em uma condição de obra-prima de Alencar e do Romantismo brasileiro, de caráter fundante.
(Enem 2009)
Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:
(A) “Dos dois contemplo
rigor e fixidez.
Passado e sentimento
me contemplam” (p. 91).
(B) “De sol e lua
De fogo e vento
Te enlaço” (p. 101).
(C) “Areia, vou sorvendo
A água do teu rio” (p. 93).
(D) “Ritualiza a matança
de quem só te deu vida.
E me deixa viver
nessa que morre” (p. 62).
(E) “O bisturi e o verso.
Dois instrumentos
entre as minhas mãos” (p. 95).
Letra D
O oximoro, ou paradoxismo, se encontra no fragmento da obra Cantares presente na alternativa D: há a combinação das palavras de sentido oposto “matança” e “deu vida”, “viver” e “morre”. Entretanto, no contexto, esse uso de palavras que parecem se excluir mutuamente reforça a oposição entre vida e morte, e a força daquela frente a esta.
(Enem 2009)
O sertão e o sertanejo
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro. Minando à surda na touceira, queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade. Transborda a vida.
TAUNAY, A. Inocência. São Paulo: Ática, 1993 (adaptado).
O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia de nação. Considerando o trecho acima, é possível reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições do Romantismo para construção da identidade da nação é a
(A) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de renovação.
(B) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das riquezas naturais do país.
(C) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza brasileira.
(D) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o sentimento de unidade do território nacional e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros.
(E) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos modelos da nascente burguesia brasileira.
Letra D
Taunay, conhecedor do interior brasileiro, escreveu um romance regionalista, um dos melhores do Romantismo brasileiro. Com sua agudeza de observação e análise, ele conseguiu registrar a linguagem coloquial em suas obras. No trecho selecionado, não há valorização da vida urbana, e sim o registro de uma linguagem repleta de metáforas por meio da qual se exaltam a paisagem e a riqueza da natureza.
(Enem 2006)
Namorados
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época
(A) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.
(B) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.
(C) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
(D) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
(E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.
Letra B
Manuel Bandeira, importante artista do movimento literário Modernismo, era muito adepto às diretrizes da escola, que visavam a busca por uma literatura completamente brasileira e livre das estéticas europeias impostas.
(Enem 2015)
Ai se sêsse
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém se acontecesse
De São Pedro não abrisse
A porta do céu e fosse
Te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virgi toda fugisse
ZÉ DA LUZ. Cordel do Fogo Encantado. Recife: Álbum de estúdio, 2001.
O poema foi construído com formas do português não padrão, tais como “juntim”, “nois”, “tarvês”. Essas formas legitimam-se na construção do texto, pois
(A) revelam o bom humor do eu lírico do poema.
(B) estão presentes na língua e na identidade popular.
(C) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado.
(D) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos brasileiros.
(E) compõem um conjunto de estruturas linguísticas inovadoras.
Letra B
O poema “Ai se sêsse” foi construído com formas do português não padrão, tais como “juntim” (juntinho), “nois” (nós), “tarvês” (talvez). Essas formas legitimam-se na construção do texto, pois estão presentes na língua e na identidade popular e fazem parte da linguagem do cotidiano de certas variantes linguísticas que, nos versos, representam a subjetividade do eu lírico.
(PUC-Camp 2014)
É certo que a República vai torta;
Ninguém nega a duríssima verdade.
Da Pátria o seio a corrupção invade
E a lei, de há muito tempo, é letra morta.
[...]
Os motivos do mal não são mistério:
É que a gentinha que governa agora
É o rebotalho que sobrou do Império.
TIGRE, Bastos apud SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 97–98.
As duas estrofes do fragmento
(A) podem ser as duas estrofes iniciais de um soneto em versos brancos.
(B) podem ser a 2ª e a 3ª estrofes de um soneto com versos decassilábicos.
(C) apresentam características típicas de um poema concreto.
(D) apresentam características típicas de um epigrama de Oswald de Andrade.
(E) podem ser as estrofes finais de um soneto de Gregório de Matos.
Letra B
O soneto é composto por quatro estrofes: as duas primeiras com quatro versos e as duas últimas com três versos cada. Assim, as estrofes apresentadas poderiam ser a segunda e terceira estrofes de um soneto, já que apresentam quatro e três versos, respectivamente. Tais versos são decassílabos, pois possuem dez sílabas métricas cada um.
(FGV-SP 2011)
Capítulo primeiro / Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Contribui decisivamente para o efeito expressivo do texto o fato de o narrador exagerar em sua
(A) construção verbal paratática.
(B) estruturação argumentativa antitética.
(C) utilização de elipses e zeugmas.
(D) exploração de recursos sonoros.
(E) mistura de variedades linguísticas.
Letra B
Não há misturas de variedades linguísticas, nem exploração de recursos sonoros, elipses ou zeugmas (omissão de termos subentendidos na frase). Além disso, em vez de construção verbal paratática (orações coordenadas), predomina construção hipotática (orações subordinadas). O que contribui para o efeito expressivo do texto é o exagero na estruturação argumentativa antitética, isto é, pela comparação de opostos (como autor defunto/defunto autor; este livro/Pentateuco).
(Enem 2003)
A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (...) andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (...) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
José Lins do Rego, Menino de engenho.
A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem:
(A) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco”.
(B) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações”.
(C) “Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio”.
(D) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e Uma Noites”.
(E) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas”.
Letra A
Barba-Azul é um personagem tradicional dos contos de fada, dos quais Totonha se apropria para contar as histórias do engenho de Pernambuco.
(PUC-Camp 2010) Há textos literários designados como canções, tal como a ‘Canção do vento e da minha vida”, de Manuel Bandeira, da qual se transcreve a primeira estrofe:
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento arria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
Com base nesses versos, justifica-se a designação de canção porque
(A) o tema desenvolvido está representado exclusivamente por elementos delicados da natureza.
(B) os símbolos utilizados remetem imediatamente às sonoridades do cotidiano.
(C) a linguagem explora bem marcada cadência rítmica e aliterações sistemáticas.
(D) a disposição gráfica dos versos lembra a espacialização das notas musicais em uma pauta.
(E) os elementos imagéticos expressam com melancolia uma realidade frágil e efêmera.
Letra C
O poema de Bandeira é classificado como canção exatamente pelo modo como utiliza os recursos sonoros. A cadência rítmica marcada pela extensão e pelo número de sílabas dos versos e o uso sistemático da aliteração (especialmente pela repetição das consoantes V, F e S) fazem com que o texto remeta ao leitor a sonoridade e ritmo de uma canção.
(UFG 2011) A enchente é um fenômeno do regime dos rios, que decorre do ciclo da água. No conto “O que veio de longe”, da obra Livro dos homens, de Ronaldo Correia de Brito, esse fenômeno é representado no processo composicional para
(A) caracterizar o trajeto do protagonista.
(B) vincular a narração a um espaço rural.
(C) demarcar a dimensão linear do enredo.
(D) refletir a estrutura narrativa da história.
(E) enfatizar o conflito e o desfecho do conto.
Letra D
No conto “O que veio de longe”, o fenômeno da enchente é representado no processo composicional para refletir a estrutura narrativa da história, pois o fluxo do rio é comparado ao fluxo da vida e ao da própria narrativa, uma vez que a história da vida de Sebastião, feito santo pela crença popular, e cujo corpo foi levado pela enchente, também vai transbordando, ultrapassando os limites da veracidade e do factível, ganhando fatos que vão se costurando e formando a lenda do santo.
(Enem 2009)
Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que
(A) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.
(B) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.
(C) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.
(D) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
(E) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.
Letra C
Como menciona o trecho de Afrânio Coutinho, o espetáculo teatral é uma composição literária, cujo texto dramático possui uma estrutura específica, sendo caracterizado de maneira geral pela forma como é contado (pela ação e diálogo dos personagens, e não por um narrador), e não por seu conteúdo, que pode ser oriundo de diversas fontes.
(Enem 2009)
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[...]
O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
Predomina no texto a função da linguagem
(A) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
(B) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
(C) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
(D) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
(E) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.
Letra E
Predomina no texto a função poética da linguagem, uma vez que se usa a estrutura linguística (figuras de linguagem, rimas, métrica) para chamar a atenção do leitor para a construção especial e artística do texto.
(PUC-SP 2012)
Apaixonei-me da Aurora
No meu quarto de marfim
Todo dia à mesma hora
Amava-a só para mim
Palavras que me dizia
Transfiguravam-se em neve
Era-lhe o peso tão leve
Era-lhe a mão tão macia.
O trecho acima é do poema “O Sacrifício da Aurora”, de Vinicius de Moraes. Do ponto de vista da construção poética, pode-se afirmar que a estrofe
(A) constrói-se apenas de rimas emparelhadas.
(B) apresenta esquema métrico que a caracteriza como redondilha maior.
(C) apresenta em seus versos apenas rimas alternadas.
(D) compõe-se, quanto ao valor, somente de rimas pobres.
(E) tem, em todos os versos, rimas interpoladas.
Letra B
O poema apresenta como esquema métrico a redondilha maior, ou seja, versos de sete sílabas poéticas. Quanto ao esquema de rimas, pode-se dizer que nos primeiros quatro versos, elas são alternadas (ABAB) e nos quatro últimos, são interpoladas (ABBA). Ainda em relação às rimas, não se pode afirmar que o poema apresenta somente rimas pobres, já que a maioria das rimas ocorre entre palavras de classes gramaticais diferentes.
(UFG 2012) Em I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, o andamento do enredo caracteriza uma obra híbrida entre o trágico e o épico porque
(A) os episódios expressam uma divergência entre os ideais românticos e a cultura indígena.
(B) as ações exprimem a fragilidade do prisioneiro e sua consequente punição, mas isso é superado por sua reação guerreira.
(C) as atitudes do herói explicitam uma indecisão entre a morte honrada e o salvamento do pai.
(D) os eventos narrados evidenciam o amor e a dedicação do prisioneiro ao pai, mas priorizam o sentimento tribal do guerreiro.
(E) o desenlace da narrativa representa uma convergência entre sentimento filial e ação guerreira.
Letra B
A indecisão do herói, entre a morte honrada e o salvamento do pai, remete ao trágico. Já o sentimento tribal e a luta por morrer honradamente remetem ao épico. A alternativa B aborda o caráter híbrido mencionado no enunciado: a fragilidade e punição, decorrentes da indecisão, são superadas pelo sentimento tribal e pela ação guerreira, que suplanta o sentimento filial, unindo os ideais românticos de exaltação da cultura nacional e a cultura indígena.
(UPE 2015) A carta do Descobrimento do Brasil, segundo Alfredo Bosi, é um diário de viagens. Nela, o autor Pero Vaz de Caminha, ao enaltecer as belezas e riquezas da terra, visa
(A) convencer as autoridades portuguesas a enviar colonos para a região descoberta, a fim de que tomassem posse da terra, impedindo a entrada de navios estrangeiros na costa brasileira, muito cobiçada pelos ingleses na época.
(B) comunicar ao rei de Portugal, Dom João Terceiro, que a nova terra havia sido descoberta e que nela tudo era atraente, inclusive a natureza, bastante exuberante. Por essa razão, os marinheiros ficavam tão encantados que demonstravam a intenção de não retornar a Portugal.
(C) demonstrar ao rei português que os navegantes atingiram os objetivos da viagem, uma vez que já tinham certeza, ao saírem da Europa, de que encontrariam, sem muito sacrifício, terras ao sul do Equador.
(D) certificar ao rei a chegada à nova terra, a qual lhe causara boa impressão por ser rica, ter água doce, natureza viçosa, além de ser habitada por um povo exótico que não usava roupa.
(E) informar ao regente português as dificuldades da viagem, as discórdias existentes entre os marinheiros e a visão da nova terra, por sinal pouco satisfatória, em vista da dificuldade de acesso e da má hospitalidade de seus habitantes.
Letra D
A “Carta do Descobrimento do Brasil” (ou “Carta de achamento do Brasil”), publicada pela primeira vez apenas em 1817 no livro Corografia brasílica (mais de 300 anos após haver sido redigida), é, como analisa Alfredo Bosi, um diário de viagens, ou diário de bordo. Essa peça textual é considerada o primeiro documento da história do Brasil e, também, o primeiro texto literário do país. A preocupação central do texto de Pero Vaz de Caminha é informar o rei de Portugal sobre a chegada da esquadra de Cabral ao Brasil e transmitir detalhadamente dados a respeito da terra em que aportavam, a qual lhe causara boa impressão por ser rica, ter água doce, ter natureza viçosa (“De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito fremosa. [...] Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muitos bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar”), além de ser habitada por um povo exótico que não usava roupa (“Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa de cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostrar no rosto. [...] Eles porém contudo andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como as aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão fremosos que não pode mais ser”).
(UFG 2012) Os gêneros textuais circulam no mundo com características próprias e exercem determinadas funções sociais, em conformidade com as quais os gêneros literários se transformam e se reconfiguram. Nesse sentido, em I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, a função social do gênero épico de exaltar um povo ou retratá-lo em sua totalidade deixa de se realizar plenamente porque
(A) o protagonista do poema, o prisioneiro Tupi, representa ideais ainda presentes no século XIX.
(B) os escritores do século XIX já não se dedicam a longas narrativas em versos.
(C) o tempo do poema, no enredo narrado, desenvolve ações em sentido linear.
(D) os leitores do século XIX já não se sentem representados em narrativas heroicas.
(E) o espaço representado — as selvas tropicais brasileiras — expressa valores de uma cultura extinta.
Letra D
Considerando que os gêneros textuais exercem determinadas funções sociais, a epopeia teria a função de exaltar e retratar um povo, a fim de manter na memória da comunidade os fatos relevantes de seu passado. No caso de I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, essa função épica não se realiza plenamente porque os leitores do século XIX não se veem representados em tais narrativas heroicas, uma vez que já fazem parte de um contexto urbano, de uma sociedade que conserva sua memória pela escrita, e não de uma tribo guerreira, que conserva sua memória coletiva por canções e rapsódias.
Sobre os elementos narrativos que compõem os contos de Murilo Rubião, marque a alternativa correta:
(A) O narrador que predomina é o de terceira pessoa. Sua narrativa demonstra uma onisciência dequem sabe toda a trajetória do personagem.
(B) O desfecho do conto é sempre surpreendente, pois o insólito acaba desaparecendo, e a metamorfose do personagem se encerra.
(C) O insólito substitui a realidade e até o final ela se mantém. Mas sua presença não dá possibilidade de redenção para os personagens.
(D) O contraste entre o tempo linear e a mudança constante do espaço cria o absurdo na narrativa de Murilo Rubião.
(E) A maioria dos contos traz narrador de primeira pessoa. Durante o enredo, ele sempre demonstra que temos onisciência dos fatos.
Letra C
Os contos de Murilo Rubião são marcantes pela forte presença do elemento insólito, que agrava a condição humana miserável dos personagens envolvidos no enredo.
(Enem 2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
(A) ...o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas...
(B) ...era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...
(C) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno...
(D) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos...
(E) ...o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
Letra A
Rompendo com o movimento literário romântico, o Realismo desvincula-se da idealização amorosa e da relação de vassalagem do eu lírico aos sentimentos da amada. Nesse trecho, o autor visa aproximar o elemento feminino da realidade, apontando suas qualidades, bem como os seus defeitos.