Exercícios sobre o Modernismo no Brasil
(ENEM) “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
Letra ‘e’
Ao nos atermos aos pressupostos ideológicos que demarcaram a estética modernista, todas as proposições, exceto a letra “E”, consideram-se como incoerentes, uma vez que um dos posicionamentos de Manuel Bandeira era de extrair poesia das coisas mais banais da realidade, renegando assim o sentimentalismo exacerbado dos românticos (por isso, ele não retoma ao movimento), bem como repudiando quaisquer traços formais em termos de estética, razão pela qual se pautava, sobretudo, pelo uso do verso livre (por isso, não retomou ao movimento clássico).
Dessa forma, o porquê de a letra “E” ser considerada correta deve-se ao fato de que a nova proposta não era a de abominar a poesia, tanto é que, como expresso anteriormente, a temática por ele explorada se originava das coisas corriqueiras da vida.
(ENEM) O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos abaixo.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)
“Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja reproduzir a fala dos personagens (...)”.
(CEGALLA. Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980.)
Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos:
a) Condenam essa regra gramatical.
b) Acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra.
c) Criticam a presença de regras na gramática.
d) Afirmam que não há regras para uso de pronomes.
e) Relativizam essa regra gramatical.
Podemos considerar que a alternativa “D” efetivamente se aplica aos requisitos expressos pelo enunciado, visto que, segundo a opinião de ambos os autores, as regras são aplicáveis e comuns a todos os usuários, sem dúvida, mas que, no entanto, o próprio contexto, a própria circunstância é que determina o uso delas.
O poema que segue é de Oswald de Andrade. Assim, sua tarefa consistirá em analisá-lo, tendo em vista, obviamente, que ele, assim como muitos outros, pertenceu à era modernista, posicionando-se firmemente diante de todo um contexto, seja esse, político, histórico e econômico. Não se esqueça de que, ao enfatizar tais características, ajuste-as a cada verso:
Verbo crackar
Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência
Eles escafedem a massa.
Sê pirata
Sede trouxas
Abrindo o pala
Pessoal sarado
Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.
Tem-se que de forma magnífica, Oswald de Andrade, considerado o poeta irreverente por excelência, ao criticar a sintaxe exacerbada, predominantemente dominante em estéticas passadistas, como é o caso do Parnasianismo, cria, ele próprio, um novo verbo: o verbo crackar, conjugando-o em todas as pessoas gramaticais, só que de forma contundentemente crítica, ainda que expresso pelas entrelinhas do poema. Dessa forma, apoia-se num dos marcantes fatos históricos – a quebra da Bolsa de valores de Nova Iorque. Ao trabalhar as pessoais gramaticais, sobretudo no que se refere à primeira e à segunda (eu empobreço/tu enriqueces), o autor, de forma magistral, alude ao fato de que os investidores, atraídos pela valorização das ações, arriscavam todo o capital de que dispunham em prol de um negócio “aparentemente” atraente.
Ainda trabalhando a mesma temática, notamos que por meio de um instinto bastante crítico aos traços ideológicos de outros estilos de época, Oswald de Andrade incorpora em sua criação o uso de uma linguagem voltada para o prosaico, para o vulgar, como é o caso dos vocábulos “escafedem”, ”sarado”, “azula”.
Tendo em vista que Ode representa uma forma poética relacionada à exaltação, leia, analise e explicite todo o conhecimento de que dispõe acerca das marcas ideológicas que caracterizaram o período modernista, subsidiando-se no poema de Ode ao burguês, de Mário de Andrade (fragmentos):
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
[...]
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Identificarmos a postura a que se propôs Mário de Andrade ao escrever o poema em questão não se torna algo assim tão dispendioso, a começar pelo jogo que ele faz com a linguagem, apropriando-se das palavras Ódio e Ode. De forma bem paronomástica (relacionada à paronomásia – figura de linguagem), ele explora de forma antitética (antítese) as marcas semânticas presentes em exaltar (ode) e abominar (ódio). Dessa forma, constatamos que por meio de uma nítida ironia, ele insulta, do começo ao fim, a classe burguesa, haja vista que o poeta possuía ideias socializantes, mas que, no entanto, via na classe “dominante” uma barreira, pois em virtude do poderio econômico representava uma espécie de barreira às classes menos favorecidas.