Exercícios sobre a segunda geração do Romantismo
(FUVEST)
I. “Pálida, à luz da lâmpada sombria
Sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor, ela dormia!”
II. “Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço no tapete rente”.
Os dois textos apresentam diferentes concepções da figura da mulher.
a- Apontar nos dois textos situações contrastantes que revelam essas diferentes concepções.
b – Se ambos os textos são românticos, como explicar a diferença no tratamento do tema?
a –Podemos atestar que no texto I tal passagem se manifesta por meio dos seguintes versos:
“[...] Sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor, ela dormia!”.
Enquanto que no texto II, atestamos:
[...] Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço no tapete rente”.
b –Ao fazermos tal análise, devemos levar em consideração que o texto I é de autoria de Álvares de Azevedo, poeta pertencente à segunda geração romântica. Nele, constatamos que a figura da mulher era concebida como algo intocável, divinizado, ou seja, algo chegando ao plano do inatingível, onírico por sinal, como bem nos apontam os últimos versos: “como a lua por noite embalsamada, entre as nuvens do amor, ela dormia!”.
Já o texto II, sobretudo pelo fato de pertencer ao poeta Casto Alves, pertencente, portanto, à terceira geração romântica, a mulher já não é mais vista sob o plano dos sonhos, mas sim sob uma visão mais realista, razão pela qual constatamos certo erotismo pairando no ar, materializado por meio dos versos: “Quase aberto o roupão... solto o cabelo / E o pé descalço no tapete rente”.
(Cefet – MG)
Em relação ao Romantismo, pode-se afirmar que:
I –O poeta romântico deixa-se arrebatar pelo conflito entre o mundo imaginário e o real, expresso num sentimentalismo acentuado.
II –Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Gonçalves de Magalhães pertencem à segunda geração romântica.
III –O ilogismo leva o autor romântico a instabilidades emocionais que são traduzidas em atitudes contraditórias: entusiasmo e depressão, alegria e tristeza.
Estão corretas as afirmativas:
a- Apenas I e III.
b- I, II e III.
c- Apenas II.
d- Apenas I e II.
e- Apenas III.
Letra “a”- Alternativa que perfeitamente se ajusta ao enunciado, visto que tais características, tanto as expressas no enunciado I quanto no enunciado III perfizeram as manifestações artísticas do período em questão (Romantismo).
b -Ao afirmar que a alternativa II também se ajusta nas questões consideradas corretas, há de se fazer uma ressalva: Gonçalves de Magalhães pertenceu à primeira geração romântica, não à segunda, como aponta a afirmativa expressa na questão.
c –Ao analisarmos a que geração pertenceu Gonçalves de Magalhães, constatamos que, ao contrário do que a alternativa expressa, ele não se encaixa na segunda geração romântica.
d –Em se tratando da alternativa I, ela realmente se encaixa nas características que demarcam o estilo em questão – Romantismo- mas daí afirmar que Gonçalves de Magalhães pertenceu à segunda geração romântica, tal afirmação não procede.
e –Ao depararmos com tal afirmativa, realmente constatamos que se trata de uma formação verdadeira, porém, não somente ela se apresenta como verdadeira, pois a alternativa I também se enquadra nesse perfil.
O conhecido “Mal-do-século” representa uma das características que demarcam a segunda geração romântica. Dessa forma, teça um comentário procurando relacionar esse aspecto com a morte prematura de quase todos os representantes que pertenceram à época em questão (ultrarromântica).
Como dito no enunciado, a maioria dos representantes do ultrarromantismo tiveram suas vidas ceifadas de forma bastante precoce, como é o caso de Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Junqueira Freire. Ao contrário do que muitos pensam, ao conceberem esse fato com se fosse uma epidemia propriamente dita, as mortes eram provocadas justamente pelo estilo de vida que tais representantes escolhiam para si mesmos. Assim, em virtude de trazerem consigo alguns traços ideológicos marcantes, tais como: fuga à realidade, egocentrismo, desejo de solidão, evocação à morte, pessimismo, entre outros, levavam um vida totalmente boêmia, frequentando lugares sombrios, úmidos, como uma espécie de refúgio, acima de tudo. Tais ambientes eram significativamente convidativos para a proliferação de bactérias, de patologias diversas, sobretudo a tuberculose, diagnosticada como a causadora destas mortes, tão precocemente materializadas.
Evidenciam-se a seguir alguns fragmentos extraídos do poema de Álvares de Azevedo intitulado “Lembrança de Morrer”. Assim, após uma leitura atenta, procure nele evidenciar algumas características da época romântica, sobretudo aquelas pertencentes à segunda geração, e expressá-las exemplificando por meio dos próprios versos:
LEMBRANÇA DE MORRER
No more! O never more!
SHELLEY
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!
[...]
Não seria nada espantoso, nada fora do convencional, afirmarmos que os estilos de época (não somente a época romântica em específico) reproduziram, por meio dos posicionamentos ideológicos de seus representantes, todo um contexto, toda uma realidade circundante, seja no campo histórico, político, econômico ou social. Dessa forma, as características que demarcaram a chamada segunda geração romântica não provêm de nada que não tenha sido manifestado. Assim, egocentrismo, fuga à realidade, pessimismo, desejo de solidão, desejo de morte, entre outras, revelam essa heranças, como podemos atestar por meio dos seguintes versos:
“Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente...”
Temos que a “dor vivente” expressa o culto ao pessimismo, à visão sombria acerca das coisas mundanas.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
Por meio de tais versos as palavras parecem se “expressar” por si só, sobretudo materializadas pelos vocábulos “tédio”, “pesadelo”, “deixo a vida”. Todos eles revelam o desejo de morte, o sentimento de frustração por parte de alguém que vê perspectiva nenhuma acerca das coisas que o envolvem.
Para terminar e, sobretudo sem muitas palavras, atestamos mais uma vez a visão totalmente sombria, quase que opaca do eu lírico, manifestada pelos versos ora expressos:
“Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...”