Exercícios sobre Adequação Vocabular
Muito se fala em adequação vocabular, sobretudo em se tratando dos requisitos de toda e qualquer produção escrita. Mas, afinal, qual o conceito que se atribui a essa recorrente expressão?
Ao respondermos a essa indagação, tendo em vista que o próprio enunciado faz referência à modalidade escrita da linguagem, torna-se relevante ressaltar que a adequação vocabular se refere aos requisitos preconizados pela modalidade em referência. Como se trata de uma situação específica de interlocução, o discurso tem de estar de acordo com os preceitos gramaticais, levando-se em consideração as questões relacionadas à ortografia, morfologia, semântica e à sintaxe.
Discorra acerca da noção de certo X errado, tendo em vista as diversas situações de interlocução.
Mais uma vez a adequação vocabular representa o ponto fundamental da discussão ora abordada. Nesse sentido, temos que a noção de certo e errado, mesmo denotando pontos conflitantes, carece de uma discussão um tanto quanto apurada, tendo em vista que, para a Sociolinguística, a mutabilidade e a variabilidade são características inerentes a qualquer língua natural.
Dessa forma, muito se discute sobre o caráter hegemônico que a linguagem formal tem sobre a linguagem do dia a dia. A título de exemplificação, vale dizer que essa heterogeneidade resulta das variações linguísticas presentes nos grupos sociais como um todo. Pessoas de diferentes grupos se expressam de diferentes formas, levando-se em consideração o contexto em que se materializa a interlocução.
Como exemplo prático, há que se estabelecer uma semelhança entre o modo de falar e o modo como nos vestimos no dia a dia, ou seja, tudo se trata de uma perfeita combinação, na qual adequamos nosso traje às diferentes situações cotidianas. Portanto, há uma significativa diferença entre o discurso proferido mediante uma roda de amigos, uma mensagem rápida trocada por e-mail ou mesmo pelo celular, e entre uma redação empresarial, um artigo científico e uma produção textual. Eis a questão da diferença que demarca ambos os pressupostos.
Tendo em vista as variações linguísticas, registre sua opinião acerca dos exemplos mencionados abaixo:
O Poeta da Roça
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argun menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)
Patativa do Assaré
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade
Temos que o primeiro exemplo, literalmente, representa uma das variações socioculturais da língua, manifestada por um vocabulário genuinamente caipira. Partindo desse pressuposto, convém focarmos em uma recorrente discussão: a comunicação, uma vez não estando errada, estando somente transgredindo a norma culta, não deixou de se efetivar. Exemplo disso é que Patativa do Assaré, pseudônimo de Antônio Gonçalves da Silva, com seu estilo simples, porém poético, conseguiu atravessar fronteiras, fazendo com que sua obra ficasse conhecida no continente europeu.
Comparada ao segundo exemplo, mesmo que nesse a postura ideológica se manifeste de forma diferente, constatamos que Oswald de Andrade retrata essa questão do academicismo e revela que as variantes linguísticas delineiam as relações sociais de forma geral e, assim, vão se propagando por meio dos “teiados” construídos mediante as interlocuções cotidianas.
Partindo do pressuposto de que o padrão formal da linguagem rege a linguagem escrita, explicite suas considerações acerca da temática contida em ambas as criações descritas abaixo.
Beija eu
Seja eu!
Seja eu!
Deixa que eu seja eu
E aceita
O que seja seu
Então deita e aceita eu...
Molha eu!
Seca eu!
Deixa que eu seja o céu
E receba
O que seja seu
Anoiteça e amanheça eu...
Beija eu!
Beija eu!
Beija eu, me beija
Deixa
O que seja ser...
MarisaMonte
Composição : Marisa Monte / Arnaldo Antunes / Arto Lindsay
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
Mediante análise de ambos os exemplos, vale ressaltar um importante fator: a chamada licença poética, a qual se define pela permissão concedida ao emissor (no caso, o artista) para cometer alguns “desvios” sem que isso denote nenhuma inadequação. Transgressões essas perceptíveis no uso de um pronome pessoal do caso reto (eu) na condição de complemento verbal, que no caso é de competência dos pronomes pessoais do caso oblíquo. Sendo assim, perante os postulados gramaticais, o correto seria beija-me/ molha-me/seca-me. Tal ocorrência em nada afetou a clareza da mensagem ora proferida, fato que Oswald de Andrade deixa claro em seu poema, ou seja, a diversidade linguística está intrínseca ao jeito de falar do brasileiro, sem dúvida.