Exercícios sobre empréstimos linguísticos
(UFSC – 2009)
Estrangeirismos: “skate” ou “esqueite”? Um dos fatores relevantes de variedade linguística são os empréstimos vocabulares em consequência do intercâmbio cultural, político e econômico entre as nações. Em geral, os países mais poderosos acabam “exportando” para os países menos poderosos palavras que definem novos objetos e necessidades em novas áreas de conhecimento. Em princípio, não há nada de mau nesse intercâmbio vocabular, a importação de vocabulário está na essência mesmo do crescimento das línguas modernas. Por exemplo, praticamente 50% das palavras da língua inglesa são de origem latina, em decorrência da dominação do Império Romano e, mais tarde, da dominação dos normandos, embora o inglês seja uma língua não latina. [...] Modernamente, temos um exemplo fortíssimo no Brasil: o crescimento da informática entre nós acabou importando uma grande quantidade de palavras de origem inglesa para designar objetos e funções antes inexistentes. Nesse processo histórico, algumas palavras importadas “pegam” e se incorporam à língua, adaptando-se foneticamente, isto é, aos sons do português [...], e outras são substituídas. Durante um tempo, a palavra estrangeira transita “entre aspas”, até se adaptar ou ser substituída por outra. Exemplos: football adaptou-se para futebol, mas corner, de largo uso antigamente, acabou sendo substituída por escanteio. No caso da informática, já se usa salvar no lugar do inglês save (quando poderia ser usado simplesmente gravar), mas software ainda está à solta, à procura de uma solução... A palavra mouse (= camundongo), para designar o popular utensílio de amplíssimo uso nos computadores, ainda continua grafada em inglês, mas não é impossível que em pouco tempo ela esteja nos dicionários como mause, definitivamente incorporada ao nosso léxico (como o Aurélio, por exemplo, já oficializou a palavra máuser, designando um tipo de arma de origem alemã). [...] É bom lembrar que o empréstimo vocabular não é sinal de “decadência da língua”, mas justamente de vitalidade de sua cultura, em confluência com outras culturas e outras linguagens. E esse é, de fato, um terreno em que pouco se pode fazer oficialmente – o uso cotidiano da língua, multiplicado na diversificação de atividades dos seus milhões de usuários, pela fala e pela escrita, acaba separando o joio do trigo, consagrando formas novas e fazendo desaparecer outras. O fato é: não precisamos ter medo, porque a língua não corre perigo! Na verdade, os que correm perigo muitas vezes são os seus falantes, mas por outras razões! FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Oficina de texto. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 37-38. [Adaptado] |
Considerando o texto assinale a alternativa correta:
I. A pergunta formulada no título é respondida no texto: os autores defendem a grafia “skate”, pois se trata de um empréstimo vocabular.
II. Uma das razões pelas quais as línguas variam e mudam são os empréstimos linguísticos.
III. Os exemplos apresentados no terceiro parágrafo evidenciam a exportação e a importação de palavras feitas pelo Brasil, isto é, um intercâmbio vocabular.
IV. A importação de palavras em uma língua pode se resolver de duas maneiras: ou as palavras estrangeiras são incorporadas à língua, ou são substituídas por outras.
V. O uso de estrangeirismos não passa de um modismo elitista alimentado pela mídia nas áreas do esporte e da informática.
VI. Quem soluciona a questão dos estrangeirismos são os próprios falantes no uso diário da língua. VII. O estrangeirismo deve ser oficialmente combatido, pois coloca em risco a autonomia da língua portuguesa.
a) I, II, III, IV e VI.
b) Todas estão corretas.
c) V e VII.
d) II, III, V e VII.
e) I, III, IV e VI.
Alternativa “a”. Os estrangeirismos não colocam em risco a autonomia da língua portuguesa, apenas comprovam seu dinamismo e sua organicidade, visto que o idioma é um elemento vivo, que pode ser modificado pelos falantes de acordo com suas necessidades comunicacionais.
(Enem – 2002)
Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber: ........ Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos do território nacional; Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como "Me vê um chopps e dois pastel"; .......... Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra "borraxaria" e nenhum dono de banca de jornal anunciará "Vende-se cigarros"; .......... Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão". PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001. |
No texto acima, o autor:
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.
c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.
d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.
Alternativa “b”. O discurso do autor é irônico e crítico, o que é possível notar quando ele propõe mudanças absurdas em relação aos hábitos linguísticos dos brasileiros, como se fosse possível impedir o falante de utilizar expressões já cristalizadas no léxico. Para ele, assim como suas propostas, o projeto de lei é absurdo.
Sobre os estrangeirismos, é incorreto afirmar:
a) A“intromissão” de elementos, expressões e construções alheias ao nosso idioma é chamada de estrangeirismo. Esse processo, como o próprio nome sugere, refere-se aos termos que não pertencem genuinamente ao nosso léxico, contudo, em virtude de um processo natural de assimilação de cultura ou de proximidade com países que sejam usuários de um idioma diferente, acabam constituindo nosso vocabulário.
b) Alguns estrangeirismos ficam restritos à linguagem oral, outros acabam sendo devidamente apropriados na modalidade escrita, tão acomodados em nosso vocabulário que sequer percebemos que se trata de empréstimos linguísticos.
c) Alguns estrangeirismos foram aportuguesados, isto é, tiveram sua pronúncia ou estrutura modificadas para ficarem mais parecidos com o som do português. Outros tiveram sua forma preservada e são utilizados corriqueiramente como se fizessem parte de nossa língua, já que foram legitimados em razão da aceitação na sociedade.
d) Os estrangeirismos são nocivos à nossa identidade cultural e não podem ser considerados como um tipo de variação linguística. Devem ser empregados apenas quando uma palavra estrangeira não apresenta termo equivalente na língua portuguesa.
Alternativa “d”. Os estrangeirismos não são nocivos à nossa identidade cultural, mesmo porque é importante considerar que a língua é um organismo vivo e vulnerável às variações linguísticas e a todo tipo de elementos inseridos no idioma pelos falantes, que são os verdadeiros donos da língua portuguesa.
Capitulação
Delivery
Até pra telepizza
É um exagero.
Há quem negue?
Um povo com vergonha
Da própria língua
Já está entregue.
Luís Fernando Veríssimo
Sobre o pequeno poema de Luís Fernando Veríssimo, assinale as proposições corretas:
I. O escritor defende que os empréstimos linguísticos sejam abolidos do nosso idioma, já que eles ameaçam a soberania da língua portuguesa.
II. O escritor defende, de maneira bem humorada, que os empréstimos linguísticos sejam utilizados com parcimônia, apenas quando forem estritamente necessários.
III. O título do poema, Capitulação, sugere que a cultura brasileira vive um período de submissão cultural e linguística, rendendo-se aos estrangeirismos desnecessários.
IV. O autor sugere com o uso do marcador de pressuposição “até” que o termo telepizza já era um exagero que ficou acentuado com a substituição pelo termo delivery. Lembrando que a expressão telepizza também é um exemplo de estrangeirismo, pois é formada a partir de “tele-” (do grego “longe”, “a distância”) e de “pizza”, palavra italiana de grafia não aportuguesada.
a) Todas as alternativas estão corretas.
b) apenas IV está correta.
c) II, III e IV estão corretas.
d) Apenas I está correta.
e) I, III e IV estão corretas.
Alternativa “c”. Embora critique o uso exagerado dos empréstimos linguísticos, o escritor não defende a ideia de que eles sejam abolidos, apenas que sejam utilizados com parcimônia.