Exercícios sobre paródia e paráfrase
(Enem-MEC)Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:
TEXTO 1
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche na vida”
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.
TEXTO 2
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
TEXTO 3
Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Essa espécie ainda envergonhada.
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade em relação a Carlos Drummond de Andrade por:
a) reiteração de imagens
b) oposição de ideias
c) falta de criatividade
d) negação dos versos
e) ausência de recursos
Atestamos como verdadeira a alternativa demarcada pela letra “A”.
(Ufpel 2000)- Leia com atenção a seguinte passagem, retirada do livro "Para entender o texto - leitura e redação", de Platão & Fiorin, Editora Ática.
Com muita frequência um texto retoma passagens de outro. Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isso é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação.
Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras que compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para a compreensão global de um texto.
A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre textos dá-se o nome de intertextualidade.
(...)
Um texto cita outra com, basicamente, duas finalidades distintas:
a) para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado;
b) para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para “polemizar com ele".
Com base nisso, observe os três textos a seguir:
TEXTO 1
Pescador tão entretido
numa pedra ao sol,
esperando o peixe ferido
pelo teu anzol,
há um fio do céu descido
sobre o teu coração:
de longe estás sendo ferido
por outra mão.
MEIRELES, Cecília. "Flor de poemas". 3ª edição - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972. p.162
TEXTO 2
"tô descendo a serra
cego pela serração*
salvo pela imagem
pela imaginação
de uma bailarina no asfalto
fazendo curvas sobre patins
tô descendo a serra
cego pela neblina
você nem imagina
como tem curvas esta estrada
ela parece uma serpente morta
às portas do paraíso
o inferno ficou para trás
com as luzes lá em cima
o céu não seria rima
nem seria solução"
* (sic)
Engenheiros do Hawaii
TEXTO 3
Relacionando o fragmento extraído de Platão & Fiorin, o seu conhecimento e os textos apresentados, podemos afirmar que:
a) No texto 3, não se evidencia intertextualidade, pois ela ocorre somente entre textos literários.
b) Nos textos 1 e 2, evidencia-se intertextualidade: esses textos remetem, respectivamente, a "No meio do caminho" e "Confidência de Itabirano", de Drummond.
c) No texto 1, evidencia-se intertextualidade: ele remete a "No meio do caminho", de Drummond.
d) Nos textos 2 e 3, evidencia-se intertextualidade: esses textos remetem, respectivamente, a "Poema de sete faces" e "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade.
e) No texto 2, evidencia-se intertextualidade: ele remete a "Confidência de Itabirano", de Drummond.
Alternativa correta demarcada pela letra “D”, haja vista que ambos os textos estabelecem uma relação de diálogo entre o poema de Drummond, ainda que se trate de gêneros textuais diferentes: um representado por uma canção musical e outro por um anúncio publicitário.
Tendo em vista que um texto, seja ele expresso por meio de uma linguagem verbal, bem como por meio de uma linguagem não verbal (pintura, escultura, fotografia, entre outras modalidades), estabelece com outro uma relação de diálogo, explicite seus conhecimentos acerca do conceito de paráfrase e paródia.
Paráfrase se conceitua como a reescrita de um texto procurando manter as mesmas ideias do texto-matriz, sem a menor intenção de subvertê-las.
Já a paródia se caracteriza pela relação dialógica entre um texto e outro, porém com o objetivo de distorcer as ideias expressas no texto-base, utilizando-se da crítica, do sarcasmo.
Acerca das estrofes expressas a seguir, analise-as, comparando e expressando seus comentários sobre a relação dialógica (se é que há) existente entre elas, enfatizando, sobretudo, se se trata da paráfrase ou da paródia:
Texto I
Meus oito anos
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
Casimiro de Abreu
Texto II
Meus oito anos
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
Oswald de Andrade
Inferimos que o texto de Oswald de Andrade estabelece uma relação intertextual com o de Casimiro de Abreu, até mesmo pelo fato de citar trechos de forma íntegra, como o que ocorre em: “Oh que saudades que eu tenho / Da aurora de minha vida”, contudo, essa relação dialógica se dá de modo crítico, ou seja, para Oswald, a visão que se tem da infância não é retratada de forma sonhadora, quase que irreal, ao contrário, justamente pelo fato de ter sido publicado no século XX, época demarcada pelo período modernista, um dos critérios ideológicos predominantes era justamente criticar os moldes preconizados pela visão romântica. Dessa forma, cumpre dizer que o texto 2 parodia, ou seja, subverte as ideias expressas no texto primeiro.