Enem: lista de exercícios sobre ética e filosofia política
(Vunesp 2012) O clima do “politicamente correto” em que nos mergulharam impede o raciocínio. Este novo senso comum diz que todos os preconceitos são errados. Ao que um amigo observou: “Então vocês têm preconceito contra os preconceitos”. Ele demonstrava que é impossível não ter preconceitos, que vivemos com eles, e que grande quantidade deles nos é útil. Mas, afinal, quais preconceitos são pré-julgamentos danosos? São aqueles que carregam um juízo de valor depreciativo e hostil. Lembre-se do seu tempo de colégio. Quem era alvo dos bullies? Os diferentes. As crianças parecem repetir a história da humanidade: nascem trogloditas, violentas, cruéis com quem não é da tribo, e vão se civilizando aos poucos. Alguns, nem tanto. Serão os que vão conservar esses rótulos pétreos, imutáveis, muitas vezes carregados de ódio contra os “diferentes”, e difíceis (se não impossíveis) de mudar.
Adaptado de Francisco Daudt. Folha de S.Paulo, 07.02.2012.
O artigo citado aborda a relação entre as tendências culturais politicamente corretas e os preconceitos. Com base no texto, pode-se afirmar que a superação dos preconceitos que induzem comportamentos agressivos depende:
a) da capacidade racional de discriminar entre pré-julgamentos socialmente úteis e preconceitos disseminadores de hostilidade.
b) de uma assimilação integral dos critérios “politicamente corretos” para representar e julgar objetivamente a realidade.
c) da construção de valores coletivos que permitam que cada pessoa diferencie os amigos e os inimigos de sua comunidade.
d) de medidas de natureza jurídica que criminalizem a expressão oral de juízos preconceituosos contra integrantes de minorias.
e) do fortalecimento de valores de natureza religiosa e espiritual, garantidores do amor ao próximo e da convivência pacífica.
Letra A. Alguns pré-julgamentos foram úteis para o desenvolvimento da humanidade. Foram responsáveis, por exemplo, para o ser humano ter cautela com toda sorte de infortúnios causados no momento e que poderiam ser motivo de dor no futuro. Isso não significa, contudo, que pré-julgamentos que sejam danosos e pejorativos contra os diferentes devam ser tolerados.
(Unioeste 2011) No itinerário histórico-cultural ocidental de estruturação do pensamento filosófico-político sobre a origem e fundamento do Estado e da sociedade política, encontra-se o modelo de pensamento contratualista (jusnaturalista), tendo em Hobbes, Locke e Rousseau filósofos relevantes na discussão dos elementos estruturais deste modelo. Segundo Norberto Bobbio, este modelo é “construído com base na grande dicotomia ‘estado (ou sociedade) de natureza/estado (ou sociedade) civil’”, e contém “elementos caracterizadores” deste modelo.
Com base no texto, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Na concepção política de HOBBES, o estado de natureza é tido como um estado de guerra generalizada, de todos contra todos.
b) Na concepção política de Aristóteles, o homem é, por natureza, um ser insociável e apolítico.
c) Na concepção política de HOBBES, o poder soberano que resulta do pacto de união, por ser soberano, tem como atributos fundamentais ser um poder absoluto, indivisível e irrevogável.
d) Na concepção política de Locke, a passagem do estado de natureza para o estado civil se realiza mediante o contrato social que é um pacto de consentimento unânime de indivíduos singulares para o ingresso no estado civil.
e) Contrapondo-se a Hobbes, Locke concebe o estado de natureza como um estado de “relativa paz, concórdia e harmonia”.
Letra B. A alternativa contradiz a afirmação de Aristóteles feita em seu livro Política: “o homem é um animal político”. Segundo Aristóteles, a sociabilidade organizada pela política e encontrada na cidade são parte da natureza humana.
(Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao:
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo.
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana.
d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem.
e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.
Letra C. O humanismo renascentista não rejeita a ideia de Deus, mas coloca a primazia dos acontecimentos na capacidade racional do ser humano. Maquiavel concorda com essa visão e a reafirma, dizendo que existe um fator “sorte” na ação política (que, em sua obra, é afirmado pela fortuna) e um fator baseado na competência, determinado pela virtu.
(Enem 2013)
Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser:
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.
Letra C. Maquiavel é um dos mais importantes teóricos políticos e um dos fundadores da Ciência Política moderna por reconhecer, de maneira bem realista, que o ser humano é guiado por interesses egoístas, portanto passível de corrupção. A teoria maquiavelina está contrapondo as utópicas teorias políticas antigas, que viam a virtude e a felicidade desinteressada como o ápice da ação humana.
(Enem 2015) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles:
a) entravam em conflito.
b) recorriam aos clérigos.
c) consultavam os anciãos.
d) apelavam aos governantes.
e) exerciam a solidariedade.
Letra A. Thomas Hobbes é o teórico do contratualismo que caiu no jargão popular, que coloca em suas palavras que o homem é mau por natureza. É fato que Hobbes não compreende o mal por um viés moral no estado de natureza, no entanto, ao afirmar que o estado de natureza é o estado de guerra de todos contra todos e que o homem é o lobo do homem, ele está dizendo que o que acontece, sem a intervenção do contrato, é o conflito e a guerra.
(Enem 2013) Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contrato uma soberania absoluta e indivisível. Ensina que, por um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política e submetem-se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz.
CHEVALLIER, J. J. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro: Agir, 1995 (adaptado).
A proposta de organização da sociedade apresentada no texto encontra-se fundamentada na:
a) imposição das leis e na respeitabilidade ao soberano.
b) abdicação dos interesses individuais e na legitimidade do governo.
c) alteração dos direitos civis e na representatividade do monarca.
d) cooperação dos súditos e na legalidade do poder democrático.
e) mobilização do povo e na autoridade do parlamento.
Letra B. O pacto social é um contrato em que os cidadãos cedem sua liberdade individual ao soberano, que tem autonomia para agir sobre os seus súditos.
(Enem 2018)
TEXTO I
Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção.
HOBBES, T. Levlatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983
TEXTO II
Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse autor deveria dizer que, sendo o estado de natureza aquele em que o cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos outros, esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente ao gênero humano.
ROUSSEAU, J.-J Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado).
Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os homens se dá em razão de uma:
a) predisposição ao conhecimento.
b) submissão ao transcendente.
c) tradição epistemológica.
d) condição original.
e) vocação política.
Letra D. A condição original é um fator intrínseco à obra desses dois contratualistas. O que muda é a visão de cada um sobre essa condição original, que é o estado de natureza na obra de ambos.
Leia a tira e o texto a seguir.
Tirinha Calvin, de Bill Watterson. Disponível aqui. Acesso em 9 de julho de 2021.
Por liberdade entende-se, conforme a significação própria da palavra, a ausência de impedimentos externos, impedimentos que muitas vezes tiram parte do poder que cada um tem de fazer o que quer, mas não podem obstar que use o poder que lhe resta, conforme o que o seu julgamento e razão lhe ditarem.
T. Hobbes. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Na passagem anterior, Hobbes define liberdade. A partir dessa definição, é possível dizer sobre a tirinha que:
a) Calvin não é livre para ligar o aquecedor, mas é livre para colocar o suéter.
b) Calvin é absolutamente livre, mas escolhe se resignar e obedecer à sua mãe.
c) Calvin foi coagido pela sua mãe, que o impediu de colocar o suéter marrom.
d) ela exemplifica o determinismo de Hobbes, já que não existe liberdade.
e) Calvin age com autonomia ao compreender as razões para não ligar o aquecedor.
Letra A. A liberdade de Calvin é parcial, pois há um impedimento externo (sua mãe) de agir com plena liberdade, ligando o aquecedor.
(Enem 2014) Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1978.
Segundo a Teoria da Formação do Estado, de John Locke, para viver em sociedade, cada cidadão deve:
a) manter a liberdade do estado de natureza, direito inalienável.
b) abrir mão de seus direitos individuais em prol do bem comum.
c) abdicar de sua propriedade e submeter-se ao poder do mais forte.
d) concordar com as normas estabelecidas para a vida em sociedade.
e) renunciar à posse jurídica de seus bens, mas não à sua independência.
Letra D. Segundo Locke, os direitos naturais, inclusive a propriedade, um direito natural inalienável, são garantidos pelo estado civil, pois a lei de natureza não consegue resolver os conflitos resultantes da igualdade absoluta do estado de natureza. Assim, para garantir seu direito natural, o cidadão deve ser signatário do pacto, o que implica concordar com as normas estabelecidas pelo pacto para a vida em sociedade, em troca da garantia de seus direitos fundamentais.
(Enem 2013)
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja:
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.
Letra D. A limitação dos poderes e dos agentes públicos é fundamental no modelo de democracia pensado por Montesquieu. Por isso, o filósofo defende a formação de um Estado que consiga repartir os poderes em três esferas, possibilitando que cada uma tenha limites e uns possam cercear os outros, caso haja abuso de poder por uma das partes.
(Enem 2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado, menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa:
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.
Letra A. Para Kant, o esclarecimento é obtido por uma espécie de expressão máxima da racionalidade, que garante ao indivíduo uma autonomia moral por meio do desenvolvimento intelectual.
(Enem 2017) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto:
a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa.
b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.
c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.
d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.
e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas.
Letra C. Para Kant, a ética está vinculada à universalização das ações. Uma ação somente pode ser eticamente viável se ela for correta em absolutamente qualquer situação. Como pegar dinheiro emprestado sabendo que não pode pagar é errado, essa ação está fora do campo ético pensado por Kant.
Considere o texto a seguir:
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.
A virtude ética, segundo o texto e seus conhecimentos sobre o assunto:
a) reside no meio-termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.
b) implica a escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.
Letra A. Segundo Aristóteles, a mediania (ou justa medida, ou prudência, dependendo da tradução) é a via ética do meio-termo entre os excessos. Segundo o filósofo, os vícios morais são os extremos da ação (vício por excesso e vício por falta) e a virtude (que corresponde à ação ética) é o meio-termo entre os excessos.
(UFF 2012) Aristóteles considerava que era melhor para a sociedade a soberania política ser entregue ao povo, como ocorre na democracia, do que a alguns homens notáveis, como na oligarquia ou aristocracia. Ele argumentava que, mesmo que um indivíduo isoladamente não fosse muito competente no ato de julgar, quando unido a outros cidadãos julga melhor, porque a união reúne as qualidades de cada um.
A vantagem da democracia, segundo o ponto de vista de Aristóteles, seria a de:
a) combinar as qualidades de muitos e neutralizar seus defeitos.
b) garantir que os defeitos do povo sejam corrigidos pela elite.
c) proporcionar à maioria as vantagens da corrupção.
d) permitir que os grandes homens falem em nome de todos.
e) promover o anonimato das opiniões e decisões.
Letra A. A democracia não era a forma de governo ideal, mas era uma possibilidade melhor que as degenerações de outras formas, como a oligarquia e a tirania.
(Vunesp 2014) A condenação à violência pode ser estendida à ação dos militantes em prol dos direitos animais que depredaram os laboratórios do Instituto Royal, em São Roque. A nota emocional é difícil de contornar: 178 cães da raça beagle, usados em testes de medicamentos, foram retirados do local. De um lado, por mais que seja minimizado e controlado, há o sofrimento dos bichos. Do outro lado, está nosso bem maior: nas atuais condições, não há como dispensar testes com animais para o desenvolvimento de drogas e medicamentos que salvarão vidas humanas.
(Direitos animais. Veja, 25.10.2013.)
Sob o ponto de vista filosófico, os valores éticos envolvidos no fato relatado envolvem problemas essencialmente relacionados:
a) à legitimidade do domínio da natureza pelo homem.
b) a diferentes concepções de natureza religiosa.
c) a disputas políticas de natureza partidária.
d) à instituição liberal da propriedade privada.
e) aos interesses econômicos da indústria farmacêutica.
Letra A.
Há uma certeza que permeia a bioética e essa certeza já foi dúvida: o ser humano tem o direito de dominar a natureza? Essa legitimidade é o caminho para pensar na provocação feita pelo texto.
Considere o texto a seguir:
Considera-se que a tolerância corresponde à tendência em “admitir nos outros maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes ou mesmo diametralmente opostas às nossas, e, neste sentido, a tolerância nas relações sociais é uma virtude”. Assim, emitir juízos de valor negativos sobre culturas diferentes das nossas seria uma manifestação de intolerância. Todavia, ser tolerante com o assassinato de albinos vem a justificar uma atitude de intolerância daqueles tanzanianos que assassinam albinos.
De acordo com o texto acima, é possível afirmar que:
a) tolerância e intolerância se equivalem.
b) necessidades econômicas geram a intolerância.
c) o egoísmo é um exemplo de intolerância.
d) devemos ser intolerantes com atitudes de intolerância.
e) podemos ser tolerantes com atitudes de intolerância.
Letra D. A tolerância morre no terreno da intolerância. Deve-se tolerar tudo, menos a intolerância, pois ela é a ruína da democracia e da tolerância.
(Enem 2010) Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evitá-la, ordenaram a um criado que matasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia.
Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em: 28 ago. 2010 (adaptado).
No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é:
a) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.” Jean Paul Sartre
b) "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.” Santo Agostinho
c) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Arthur Schopenhauer
d) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo." Michel Foucault
e) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança." Friedrich Nietzsche
Letra B. O determinismo é a tese de que nosso destino está predeterminado, seja por Deus, seja por qualquer outra vontade exterior a nós mesmos. Apesar de defender o livre-arbítrio, a frase de Agostinho se aproxima do determinismo.
(UEL 2006 — adaptada) Uma moral racional se posiciona criticamente em relação a todas as orientações da ação, sejam elas naturais, autoevidentes, institucionalizadas ou ancoradas em motivos através de padrões de socialização. No momento em que uma alternativa de ação e seu pano de fundo normativo são expostos ao olhar crítico dessa moral, entra em cena a problematização. A moral da razão é especializada em questões de justiça e aborda em princípio tudo à luz forte e restrita da universalidade.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. v. I. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 149.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral em Habermas, é correto afirmar:
a) a formação racional de normas de ação ocorre independentemente da efetivação de discursos e da autonomia pública.
b) o discurso moral se estende a todas as normas de ações passíveis de serem justificadas sob o ponto de vista da razão.
c) a validade universal das normas pauta-se no conteúdo dos valores, costumes e tradições praticados no interior das comunidades locais.
d) a positivação da lei contida nos códigos, mesmo sem o consentimento da participação popular, garante a solução moral de conflitos de ação.
e) os parâmetros de justiça para a avaliação crítica de normas pautam-se no princípio do direito divino.
Letra B. A razão e a capacidade do discurso racional são as possibilidades de estabelecimento de uma ética do discurso para Habermas.
Considere os textos a seguir:
Texto I
Texto II
A: Por que quereis casar?
B: Porque estou apaixonado por uma bela rapariga, bem educada, muito rica, que canta muito bem, filha de pais honestos e que me ama, assim como sua família.
A: Eis uma razão. Vedes, pois, que não podeis querer sem razão. Declaro-vos que tendes a liberdade de vos casar: isto é, que tendes o poder de assinar o contrato.
B: Como! Eu não posso querer sem motivo? Que sucede então a este outro provérbio: minha vontade é minha razão, eu quero porque quero?
A: Isso é um absurdo, meu caro amigo, pois haveria em vós um efeito sem causa.
B: Que? Quando jogo par ou ímpar tenho então um motivo para escolher par em vez de ímpar?
A: Sim, sem nenhuma dúvida.
B: E qual é essa, razão, por favor?
A: É que a ideia de par se apresentou ao vosso espírito mais do que a ideia oposta. Seria muito cômico que nalguns casos desejásseis por existir uma razão para o vosso desejo e que noutros desejásseis sem motivo. Quando vos quereis casar, sentis a razão dominante, evidentemente; não a sentis quando jogais par ou ímpar, e contudo é necessário que exista uma.
B: Mas, uma vez ainda: sou ou não sou livre?
A: Vossa vontade não é livre, mas vossas ações são. Tendes a liberdade de fazer quando tendes o poder de fazer.
Adaptado de Voltaire. Dicionário filosófico. Disponível em:
<www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000022.pdf>.
Verbete “liberdade (Da)”.
A tirinha de Laerte e a passagem de Voltaire discutem uma questão filosófica debatida desde a Antiguidade até nossos dias. O problema filosófico em questão é:
a) a existência de algum ato gratuito, ou seja, uma ação em que não se cobra nada pelos serviços prestados.
b) o conhecimento das causas últimas de todas as coisas, permitindo a previsão exata das ações humanas.
c) a relação entre o livre-arbítrio e o determinismo, discutindo se é necessário haver uma causa para as vontades e ações.
d) a liberdade de opinião, visto que a autonomia de pensamento é um dos direitos fundamentais do homem.
e) a teoria dos jogos, discutindo a questão se é possível conhecer qual será o resultado de um jogo de par ou ímpar.
Letra C. O livre-arbítrio e o determinismo nos colocam neste problema: se temos ou não liberdade, por conta das ações e das vontades motivadoras das ações.
Considere os textos a seguir:
Texto I:
Podemos resumir a ideia do compatibilismo dizendo que “livre” não significa “não causado” – significa antes algo como “isento de coerção”. Assim, o fato de o nosso comportamento ser ou não ser livre não depende de se é ou não é causado; depende apenas do modo como é causado.
J. Rachels. Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
Texto II:
Então, ser incausada ou ser indeterminada é uma definição incorreta de ação livre. (...) Atos livres são todos aqueles cujas causas imediatas são estados psicológicos do agente; atos não livres são todos aqueles cujas causas imediatas são estados ou condições externas ao agente.
W. Stace. “Compatibilismo”. Disponível em: <http://qualia-esob.
blogspot.com.br/2008/06/walter-t-stace-compatibilismo.html>.
Acesso em: 24 nov. 2015.
Nos textos anteriores, é apresentada a concepção compatibilista de liberdade, explicando como ela é compatível com o determinismo. De acordo com os textos e seus conhecimentos, pode-se afirmar corretamente que:
a) apenas o conhecimento das causas garante a liberdade do agente.
b) a ausência de coações e causas externas é condição para a ação livre.
c) só são livres as ações indeterminadas, isto é, sem nenhuma causa.
d) ser virtuoso é condição para liberdade, pois só o sábio é verdadeiramente livre.
e) a liberdade é pura ilusão, visto que tudo no mundo tem causa determinada.
Letra B.
Tanto o compatibilismo quanto o indeterminismo afirmam que é a ausência de qualquer tipo de impedimento externo a possibilidade da ação livre do ser humano.
Considere os textos a seguir:
Texto I:
Por liberdade, então, só nos é possível entender um poder de agir ou não agir, de acordo com as determinações da vontade; isto é, se escolhermos ficar parados, podemos ficar assim, e se escolhermos nos mover, também podemos fazê-lo. Ora, essa liberdade hipotética é universalmente admitida como pertencente a todo aquele que não esteja preso e acorrentado.
D. Hume. Uma investigação sobre o entendimento humano.
São Paulo: Unesp, 2003.
Texto II:
Então a primeira resposta do compatibilista relativamente ao “livre-arbítrio” é afirmar que se o livre-arbítrio significa aquilo que habitualmente significa – liberdade de escolha e de decisão não constrangida – então o livre-arbítrio pode ser explicado pela análise compatibilista. Terás livre-arbítrio se nada te impedir de escolher ou escolher de outro modo se o desejasses; e se é isto o que livre-arbítrio significa, defendem, então, que o livre-arbítrio (assim como a liberdade de ação) é consistente com o determinismo.
Kane. “Compatibilismo”. Disponível em: <http://criticanarede.com/
met_compatibilismo.html>. Acesso em: 24 nov. 2015.
De acordo com o texto II, a definição de liberdade apresentada por Hume pode ser considerada compatibilista, porque:
a) o homem é absolutamente livre, de modo que suas ações são sempre compatíveis com aquilo que ele deseja.
b) Hume compatibiliza o pensamento liberal capitalista com a censura vigente nas sociedades comunistas.
c) o livre-arbítrio é considerado uma ilusão, já que todas as ações são determinadas pelas leis da natureza.
d) concilia a liberdade com o determinismo, ao afirmar que somos livres quando agimos segundo nossa vontade.
e) a liberdade é o que define a existência humana, sendo o homem sempre o resultado de suas escolhas.
Letra D.
Agir livre, para o compatibilismo, não é agir dentro das possibilidades da vontade.
Considere o texto a seguir:
A pura lealdade na amizade, embora até o presente não tenha existido nenhum amigo leal, é imposta a todo homem, essencialmente, pelo fato de tal dever estar implicado como dever em geral, anteriormente a toda experiência, na ideia de uma razão que determina a vontade segundo princípios a priori.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla, 2009.
A passagem citada expõe um pensamento caracterizado pela:
a) eficácia prática da razão empírica.
b) transvaloração dos valores judaico-cristãos.
c) recusa em fundamentar a moral pela experiência.
d) comparação da ética a uma ciência de rigor matemático.
e) importância dos valores democráticos nas relações de amizade.
Letra C. A moral, para Kant, deve seguir uma fórmula do dever universal, e não ser expressa pela experiência de cada indivíduo.