Exercícios sobre neologismo e estrangeirismo
(Enem 2002)
Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber:
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Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos do território nacional;
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como "Me vê um chopps e dois pastel";
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Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra "borraxaria" e nenhum dono de banca de jornal anunciará "Vende-se cigarros";
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Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.
No texto acima, o autor:
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.
c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.
d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.
Alternativa “b”. O discurso irônico do autor pode ser percebido quando ele propõe, para tentar barrar o avanço dos estrangeirismos na língua portuguesa, mudanças absurdas e inviáveis, como se fosse possível proibir os falantes de falar. Na verdade, o autor mostrou grande irritação com o Projeto de Lei que propunha “a promoção, proteção, defesa e o uso da língua portuguesa”, cujo objetivo era abolir os empréstimos linguísticos e punir quem insistisse em “conspurcar” o português.
(Enem 2010)
Carnavália
Repique tocou
O surdo escutou
E o meu corasamborim
Cuíca gemeu, será que era meu, quando ela passou por mim?
[…]
ANTUNES, A.; BROWN, C.; MONTE, M. Tribalistas., 2002 (fragmento).
No terceiro verso, o vocábulo “corasamborim”, que é a junção de coração + samba + tamborim, refere-se, ao mesmo tempo, a elementos que compõem uma escola de samba e à situação emocional em que se encontra o autor da mensagem, com o coração no ritmo da percussão.
Essa palavra corresponde a um(a)
a) estrangeirismo, uso de elementos linguísticos originados em outras línguas e representativos de outras culturas.
b) neologismo, criação de novos itens linguísticos pelos mecanismos que o sistema da língua disponibiliza.
c) gíria, que compõe uma linguagem originada em determinado grupo social e que pode vir a se disseminar em uma comunidade mais ampla.
d) regionalismo, por ser palavra característica de determinada área geográfica.
e) termo técnico, dado que designa elemento de área específica de atividade.
Alternativa “b”. A palavra corasamborim foi criada a partir da composição por aglutinação dos vocábulos: coração, samba e tamborim. Trata-se de um neologismo, uma criação vocabular usada pelos Tribalistas para a letra de sua canção.
Sobre o estrangeirismo, todas as alternativas estão corretas, exceto:
a) O estrangeirismo é o emprego de palavras, expressões e construções alheias ao idioma tomadas por empréstimos de outra língua. Vocábulos oriundos de outras línguas são incorporados por meio de um processo natural de assimilação de cultura ou ainda por conta da proximidade geográfica com regiões cujos idiomas oficiais sejam outros.
b) O estrangeirismo é um fenômeno linguístico orgânico, isto é, ele acontece de maneira espontânea e sua permanência é decidida pelos falantes, que podem, ou não, aportuguesar os empréstimos vocabulares.
c) O estrangeirismo é um fenômeno linguístico que coloca em risco a soberania da língua portuguesa, um patrimônio imaterial do Brasil.
d) O estrangeirismo não pode ser extirpado da língua portuguesa, mesmo porque isso significaria proibir os falantes de falar. Não é possível delimitar fronteiras para a comunicação, pois a língua é uma ferramenta democrática.
e) Os empréstimos devem ser utilizados sem exagero: se existe uma palavra na língua portuguesa que consegue expressar com exatidão o significado de um empréstimo vocabular, o melhor a fazer é preferir o vocábulo tupiniquim ao estrangeirismo, evitando assim possíveis entraves na comunicação.
Alternativa “c”. É preciso cautela antes de afirmarmos que os empréstimos linguísticos causam prejuízos ao idioma oficial de um país. O estrangeirismo é um fenômeno social e, como tal, diz-nos que interações sociais, econômicas, culturais e políticas refletem-se de maneira considerável nos comportamentos linguísticos de uma determinada época. Isso quer dizer que os estrangeirismos também são um tipo de modismo entre os falantes, o que não significa, portanto, que serão incorporados à língua portuguesa.
Sobre o neologismo, todas as alternativas estão corretas, exceto:
a) Os neologismos podem ser classificados como neologismo lexical, que é a aquisição de uma nova palavra no vocabulário da língua; e neologismo semântico, que é o empréstimo de um novo sentido a uma palavra já existente.
b) Um neologismo formado por onomatopeia consiste na criação de palavras para registrar sons, ruídos, vozes de animais, como miar, piar, cataplum, pingue-pongue etc.
c) Neologismos são fenômenos linguísticos que consistem na criação de novas palavras ou expressões, ou novas atribuições de sentido a uma palavra já existente na língua. Geralmente, um novo termo ou significado surge quando um falante não encontra a palavra necessária para definir e expressar a ideia pretendida.
d) Os neologismos podem ser criados a partir de processos de formação de palavras que já existem na língua, como a justaposição, prefixação, aglutinação, verbalização e sufixação.
e) Os neologismos devem ser evitados na língua portuguesa, pois ameaçam as atividades discursivas. A comunicação é a função principal da linguagem, portanto, deve-se evitar o emprego de novos vocábulos a fim de que essa função não seja prejudicada.
Alternativa “e”. Os neologismos provam que a língua muda e adapta-se de acordo com o seu uso por parte da comunidade linguística. A vivacidade de uma língua está ligada à capacidade de seus falantes de criarem novas palavras, ampliarem o vocabulário ou darem às palavras que já existem novos sentidos.