Exercícios sobre variedades linguísticas
(Variedades linguísticas, Enem 2013)
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto
a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
b) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
e) originalidade, pela concisão da linguagem.
Alternativa “d”. Típica do rap, a linguagem coloquial é responsável por conferir o efeito de espontaneidade à letra da música. A linguagem coloquial está associada a um contexto informal de comunicação, portanto, a intenção da música foi reproduzir essa comunicação.
(Variedades linguísticas, Enem 2012)
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca
a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.
b) a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa.
c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.
d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.
e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
Alternativa “e”. “Eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor” e “Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam” são afirmações que legitimam a ideia de que, para o autor, há valor lúdico e poético nos usos coloquiais da linguagem. Ele não questiona se está certo ou errado, apenas reconhece a importância dos significados construídos através do uso da linguagem coloquial e também sua expressividade.
Leia o texto a seguir para responder à questão:
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
Arnesto.
Samba do Arnesto, Adoniran Barbosa e Alocin.
A música composta por Adoniran Barbosa e Alocin é um claro exemplo do emprego da norma popular, uma das variedades linguísticas do português brasileiro. Sobre a norma popular ou coloquial, é correto afirmar, exceto:
a) Tipo de variação linguística encontrada entre os falantes com menor poder aquisitivo e com menor exposição ao conhecimento escolar. Denota uma ineficiência linguística por parte do falante, configurando-se como um erro a ser evitado na comunicação.
b) A norma popular é uma variação linguística muito utilizada em situações informais de comunicação. Nela observa-se a presença de regionalismos, marcas de oralidade, gírias e jargões próprios de uma determinada comunidade linguística.
c) As normas padrão e popular são variações linguísticas importantes, cada uma cumpre um papel específico na comunicação de acordo com o contexto. É preciso que o falante adeque-se de acordo com os níveis de formalidade exigidos no momento da fala e da escrita.
d) Embora seja importante, a norma popular tem validade como forma de comunicação, devendo ser evitada em situações que exijam maior formalidade linguística.
Alternativa “a”. Associar a norma popular ou coloquial aos falantes com menor poder aquisitivo ou menor grau de exposição ao conhecimento escolar apenas reforça a ideia do preconceito linguístico, teoria que tem sido bastante discutida entre os estudiosos da Sociolinguística. Todas as variações são importantes, contudo, é preciso ficar atento para os fatores de adequação linguística.
Como surgiram os diferentes sotaques do Brasil?
As origens dos sotaques brasileiros estão na colonização do país feita por vários povos em diferentes momentos históricos. O português, como se sabe, imperou sobre os outros idiomas que chegaram por aqui, mas sofreu influências do holandês, do espanhol, do alemão, do italiano, entre outros.
Além disso, havia diferença no idioma português falado entre os colonizadores que chegavam aqui, vindos de várias regiões de Portugal e em distintas décadas. "Os portugueses vinham em ondas, em diferentes épocas. Por isso, o idioma trazido nunca foi uniforme", explica Ataliba Teixeira de Castilho, linguista e filólogo, consultor do Museu da Língua Portuguesa e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Os primeiros contatos linguísticos do português no Brasil foram com as línguas indígenas e africanas. "A partir do século XIX, os imigrantes europeus e asiáticos temperaram essa base portuguesa, surgindo o atual conjunto de sotaques", diz o professor Ataliba.
É só reparar o sotaque e a região para lembrar os vários imigrantes que contribuíram para a história do país. No Sul, os alemães, italianos e outros povos vindos do leste europeu. No Rio Grande do Sul, acrescenta-se a estes a influência dos países de fronteira, de língua espanhola. São Paulo e sua grande comunidade italiana, misturada a pessoas vindas de várias partes do Brasil e do mundo; Pernambuco e os holandeses dos tempos de Mauricio de Nassau. Os exemplos são muitos e provam que os sotaques são parte da história da formação do país.
Por isso mesmo, não se pode dizer que haja um sotaque mais "correto" que outro. "Quem acha que fala um português sem sotaque, em geral não se dá conta de que também tem o seu próprio, já que ele caracteriza a variação linguística regional, comum a qualquer língua", afirma o professor.
Fonte: Sítio: “Revista Nova Escola. Como surgiram os diferentes sotaques do Brasil?” Disponível em: <Revista Escola>. Acesso em: 07 de out. 2014.
Sobre os diferentes sotaques encontrados no português brasileiro, é incorreto afirmar:
a) Os primeiros contatos linguísticos do português falado no Brasil (a distinção é importante em razão da diferença entre o português falado aqui e o português falado em Portugal) foram com as línguas indígenas e as línguas africanas. Posteriormente, a partir do século 19, os imigrantes de outras partes do mundo contribuíram para o nosso conjunto de sotaques.
b) Os diferentes sotaques encontrados no Brasil podem ser explicados sob o ponto de vista histórico. Sabemos que nosso país foi colonizado por diferentes povos e em diferentes momentos de nossa história. Enquanto na região Sul houve uma imigração maciça de italianos, alemães e outros povos oriundos do leste europeu, no Pernambuco, por exemplo, a influência veio dos holandeses dos tempos de Maurício de Nassau.
c) Chamamos de sotaque o tom, inflexão ou pronúncia particular de cada indivíduo ou de cada região. Cada estado brasileiro apresenta peculiaridades na fala, pois apesar de compartilharmos o mesmo idioma, seria quase impossível que um país tão grande apresentasse uma uniformidade na fala.
d) Os sotaques estão associados à norma popular ou coloquial, por isso devem ser evitados na norma padrão da língua portuguesa. Alguns sotaques, como o sotaque gaúcho, são linguisticamente mais apropriados, devido ao seu maior nível de adequação à variedade padrão da língua.
e) Alguns dialetos são usados com diferentes sotaques regionais, como ocorre na norma culta da língua portuguesa. Os sotaques, então, não podem ser confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque é apenas a diferença de pronúncia dos falantes.
Alternativa “d”.