Exercícios sobre Liberalismo e Socialismo
(ENEM, 2000) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento:
Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo o homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade. (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.)
Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar:
a) A existência do governo como um poder oriundo da natureza.
b) A origem do governo como uma propriedade do rei.
c) O absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana.
d) A origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos.
e) O poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade.
Letra D
No texto acima, Locke exulta os principais argumentos liberais: a primazia da liberdade individual, a propriedade privada, a ação da livre iniciativa no tecido social, etc. John Locke é um dos principais representantes do liberalismo de língua inglesa.
Leia o texto a seguir:
Todos os sistemas socialistas, inclusive aquele de Karl Marx e seus apoiadores ortodoxos, partem da suposição de que, em uma sociedade socialista, um conflito entre os interesses do indivíduo e do coletivo jamais poderá surgir. Todos irão agir com total interesse em dar o seu melhor, pois ele participa da produção de toda a atividade econômica. A óbvia objeção de que o indivíduo está muito pouco preocupado em determinar se ele próprio é diligente e entusiástico, e que é da maior importância para ele que todos os outros o sejam, é algo completamente ignorado por eles. Quando muito, é insuficientemente abordado. Eles acreditam que podem construir uma economia socialista tendo por base apenas o Imperativo Categórico. O quão suave é a intenção deles em proceder desta maneira foi bem explicitado por Kautsky quando ele diz, “Se o socialismo é uma necessidade social, então é a natureza humana, e não o socialismo, quem deve se reajustar às necessidades caso os dois venham a colidir.” Isso nada mais é do que uma absoluta quimera. (Von MISES, Ludwig. O Cálculo econômico sob o socialismo. São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2012. p. 43.)
Sobre a crítica de L. Von Mises ao socialismo, pode-se afirmar:
a) parte de uma concordância com Marx, mas acaba criticando os discípulos deste.
b) ancora-se no argumento de que um dos erros do socialismo é ignorar o confronto latente entre indivíduo e coletividade.
c) enumera argumentos que não dizem respeito à economia.
d) defende o coletivismo em detrimento do indivíduo.
e) não tem nenhum vínculo com o liberalismo clássico dos séculos XVIII e XIX.
Letra B
Ludwig Von Mises é um dos principais representantes da Escola Austríaca de Economia, herdeira das doutrinas do liberalismo clássico. As críticas de Mises ao socialismo são variadas, mas, atendo-nos ao texto acima, vemos que seu principal argumento refere-se à questão da visão que o socialismo tem do indivíduo. Ignorar o potencial de liberdade e de livre iniciativa do indivíduo e, eventualmente, forçá-lo (por meio do aparelho estatal) a enquadrar-se nas regras coletivistas é, para Mises, um dos principais problemas da interpretação socialista e algo que pode resultar em regimes totalitários.
Na perspectiva socialista, a luta de classes é o motor da história. Segundo essa perspectiva, na sociedade moderna, a classe que se beneficia com o sistema capitalista e serve-se da ideologia liberal é:
a) os camponeses.
b) a aristocracia.
c) o proletariado.
d) a burguesia.
e) os artesãos.
Letra D
A partir do século XVIII, a burguesia, que começou a formar-se ainda na Idade Média, tornou-se o principal grupo social da Europa e passou a promover grandes transformações políticas e sociais, como forma de buscar legitimidade política. O pensamento socialista encara a burguesia como a grande beneficiária do sistema capitalista, que sempre a acompanhou, em detrimento da classe operária, que vende sua força de trabalho para os burgueses.
Um dos argumentos liberais contra o socialismo defende que esse sistema sempre acabou demonstrando ineficiência econômica e totalitarismo político. Esse argumento tem implícita a defesa do valor central do liberalismo, que é:
a) a propriedade socializada (soviet).
b) a liberdade individual.
c) a justiça social.
d) a expropriação da propriedade privada
e) o desarmamento da população civil.
Letra B
No centro da ideologia liberal está a liberdade do indivíduo. O liberalismo, desde suas origens, opõe-se categoricamente ao coletivismo e às ideologias que pregam a socialização dos meios de produção e da propriedade privada, como o socialismo. É contrário também à perspectiva de que o indivíduo precisa ajustar-se a um padrão de comportamento coletivo, em detrimento de sua livre iniciativa.