Exercícios sobre o tempo cronológico e o tempo histórico
Leia o texto e, a seguir, assinale a alternativa correta:
O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo. Um vapor, uma gota d' água, é o bastante para matá-lo. Mas, quando o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre; e a vantagem que o universo tem sobre ele, o universo a ignora. (PASCAL, Blaise. Pensamentos, XI).
O texto do matemático e filósofo Pascal diz que o homem é nobre porque sabe que morre. “Saber que se morre”, do ponto de vista da temporalidade humana, do tempo propriamente histórico, quer dizer:
a) ser meramente animal, como todos os outros.
b) não ser consciente da morte, como é o universo.
c) ser inteligente é ser imortal.
d) ter consciência da própria finitude.
e) não conseguir dominar o universo.
Letra D
Saber-se mortal, segundo Pascal, é ser mais nobre que todo o universo. Com isso, Pascal reitera a compreensão mais profunda que se pode ter daquilo que vem a ser o tempo histórico. Ser um ente histórico é saber ter consciência da própria finitude, da própria morte. É por isso que o homem produz cultura, pois, ao contrário dos outros animais (que não sabem que morrem), o homem precisou e ainda precisa desenvolver sistemas simbólicos que deem sentido à sua existência finita.
Muitos estudiosos de textos míticos e religiosos, como o romeno Mircea Eliade, assinalam que há uma diferença crucial entre o modo como a tradição clássica, greco-romana, e a tradição judaico-cristã veem o tempo humano. Essa diferença consiste no fato de que, na cultura clássica e na cultura judaico-cristã, prevalecerem, respectivamente, as concepções:
a) do tempo reencarnado e do eterno retorno.
b) do desenvolvimento linear e da eternidade cíclica.
c) do eterno retorno e do tempo cíclico.
d) do desenvolvimento linear e do eterno retorno.
e) do eterno retorno e do desenvolvimento linear.
Letra E
A concepção greco-romana de tempo é a do eterno retorno, ou cíclica, isto é, o tempo não era encarado como algo progressivo, que pudesse culminar em um fim último, que seria a realização integral do destino humano na Terra. Não, os homens estavam presos (tanto em vida quanto depois da morte) a uma forma de tempo que retorna incessantemente sob novas formas. Para a tradição judaico-cristã, ao contrário, o tempo é um desenvolvimento linear, que tem um começo (Gênesis) e terá um fim último (o Juízo, O Reino da Glória). O tempo então seria apenas uma forma de passagem terrena da alma imortal em direção ao contato com o Eterno.
Quando Napoleão Bonaparte estava no Egito, no fim da década de 1790, durante as guerras revolucionárias, ele disse aos seus soldados, apontando com o braço às Pirâmides do Vale de Gizé: “Vejam, homens, 40 séculos vos observam”. Considerando que há um antigo provérbio egípcio que diz “Os homens temem o tempo, mas o tempo teme as pirâmides”, é correto dizer que:
a) a frase de Napoleão faz referência à engenhosidade dos engenheiros egípcios.
b) a frase de Napoleão faz referência não à resistência da materialidade física das Pirâmides, mas às várias gerações humanas que elas representam.
c) a frase de Napoleão ressalta o medo que os franceses tinham do Vale de Gizé.
d) a frase de Napoleão faz referência ao observatório astronômico da Pirâmide de Quéops.
e) a frase de Napoleão não tem sentido histórico algum.
Letra B
Napoleão não faz referência aos “40 séculos” apenas para ressaltar meramente o tempo cronológico natural, mas, sim, para dizer aos seus soldados que, ao lutarem naquela região, 40 séculos de tradição humana, representada pelas resistentes pirâmides, estariam observando (e testemunhado) os feitos históricos que eles próprios, os franceses, estavam realizando no Egito, no fim do século XIX.
Leia o texto e, a seguir, assinale a alternativa correta:
No século XIX não é mais o poder despótico dos reis que tem que ser derrubado, é essa nova instância onipotente, a força da necessidade histórica, que se levanta para determinar o curso dos acontecimentos. Contrariando a ideia humanista da Iluminação que postulava o poder glorioso da razão humana, o que anuncia a filosofia de Hegel é um novo Absoluto: do Bon Plaisir do rei ao Ukase inelutável da lei histórica – um processo imanente e irrevogável que os novos profetas procuraram interpretar e predizer como autênticos sacerdotes do mistério divino. (PENNA, José Oswaldo de Meira. O Espírito das Revoluções: da Revolução Gloriosa à Revolução Liberal. Campinas, SP: Vide Editorial, 2016. p. 161).
Levando-se em consideração os principais acontecimentos que caracterizam o século XIX, é possível dizer que Meira Penna em “derrubar a força da necessidade histórica” faz referência:
a) à concepção de tempo dos reis absolutistas, que pregavam a demolição dos privilégios aristocráticos e clericais.
b) à concepção de tempo clássica, que vigorava nas antigas civilizações grega e romana e que teve seu retorno no século XIX.
c) à concepção de tempo revolucionário, nascida com a Revolução Francesa e que se disseminou no século XIX.
d) à concepção de tempo na Idade Média, na qual os sacerdotes esperavam pelo Juízo Final, pelo fim dos tempos e pela reintegração do Homem com a Eternidade.
e) à concepção de tempo cíclico, herdada da cultura indiana pelos intelectuais europeus do século XIX.
Letra C
O texto de Meira Penna faz referência à concepção de tempo histórico nascida com a Revolução Francesa, sobretudo com os jacobinos, como Robespierre, que pregava a “aceleração do tempo histórico” por meio da revolução. É essa concepção de que a história pode ser moldada, de que o futuro pode ser construído, que dominou as ideologias políticas do século XIX e a primeira metade do século XX.